“Serial killer” de Alagoas diz que via vítimas como “câncer da sociedade” durante julgamento por morte de mãe e filho

Por Redação com informações da Ascom MPE/AL 13/11/2025 11h11
Por Redação com informações da Ascom MPE/AL 13/11/2025 11h11
“Serial killer” de Alagoas diz que via vítimas como “câncer da sociedade” durante julgamento por morte de mãe e filho
Julgamento do serial killer de Alagoas - Foto: Assessoria MPE/AL

Durante o julgamento, que está sendo realizado nesta quinta-feira, 13, o serial killer, acusado de matar mãe e filho voltou a justificar seus crimes alegando que agia para “eliminar o mal”. Ao responder ao juiz, o acusado afirmou que via as vítimas como um “câncer da sociedade” e que suas ações seriam uma forma de “limpar o mundo de criminosos”.

O autor do crime insiste em falar que suas ações são comandadas pelo "Arcanjo Miguel", tentando passar a imagem de alguém mentalmente instável. “Essa mulher era traficante de drogas, todos sabem disso. Ela usava o próprio filho como escudo humano. [...] Ele {o Arcanjo Miguel} me contou para ceifar esse joio, que vivia na sociedade traficando e roubando. A ação, a execução, tudo isso, não era eu”, disse o acusado, ao se referir ao assassinato de Beatriz Henrique da Silva e do filho dela, de apenas quatro anos.

Apesar das palavras do acusado, nenhuma das afirmações sobre envolvimento das vítimas com a criminalidade.

Mesmo confessando o crime, o réu tentou convencer os jurados de que sofria de anomalia mental, afirmando que estava em “transe” no momento do homicídio. Ele disse ainda que “não estava normal” quando invadiu a casa da vítima, na madrugada, e atirou contra mãe e filho enquanto dormiam.

O promotor de Justiça Antônio Vilas Boas, do Ministério Público de Alagoas (MPAL), rebateu as alegações e destacou que o acusado agia de forma planejada e consciente. Segundo o promotor, o comportamento dele era “psicopático e cruel”, comparável a um “filme de terror que parece não ter fim”.

“Temos aqui um réu confesso. O senhor já confessou quase todos os crimes pelos quais foi julgado. Eu não aguento até hoje olhar para a fisionomia desse homem. Isso é um filme de terror que parece que não tem fim. Ele se sentia responsável por exterminar pessoas que, a seu ver, eram envolvidas com tráfico de drogas. Ele estudava os hábitos das vítimas, acompanhava pelas redes sociais. No celular dele foram encontrados calendários com as datas dos assassinatos, além de fotografias dos túmulos das vítimas. No dia seguinte, ele recortava as matérias sobre os crimes e guardava no aparelho”, relatou o promotor.

Laudos psiquiátricos oficiais, segundo Vilas Boas, atestam que o acusado possui plena sanidade mental, contrariando as tentativas de defesa baseadas em insanidade. “A psicopatia não é uma doença mental. É a ausência de sentimento humano. Ele não tem empatia pelo sofrimento, não tem culpa. O laudo médico-psiquiátrico atesta sua inteira higidez mental, que ao tempo dos fatos ele era plenamente capaz”, explicou o representante do MP.

Durante o julgamento, o promotor também ressaltou a frieza com que o acusado agiu. “O filho de quatro anos dormia ao lado da mãe, por volta de três horas da madrugada, quando esse criminoso entrou na casa e atirou contra ela e seu filho.” Um dos disparos atingiu a criança, crime pelo qual o réu responde por lesão corporal, já que a intenção, segundo o MP, era matar apenas a mãe.

As investigações comprovaram o envolvimento do acusado por meio de confronto balístico: os projéteis retirados do corpo de Beatriz foram disparados pela mesma arma apreendida com ele. Máscaras, luvas e munições também foram encontradas em sua posse, evidenciando o mesmo modo de agir de outros crimes.

O serial killer já acumula mais de 140 anos de prisão. Ele foi condenado em cinco julgamentos anteriores por feminicídios e tentativas de homicídio, entre eles o assassinato de Tâmara Vanessa dos Santos, em Maceió, e os ataques contra José Gustavo Carvalho e Leidjane Gomes de Freitas, que sobreviveram. No último júri, realizado em 31 de outubro, ele recebeu pena de 27 anos, um mês e 10 dias de prisão.

Durante o julgamento, também foi exibido um vídeo em que o acusado declara: “Ele (o Arcanjo Miguel) me usou, porque eu sou um homem capacitado. Eu encontrava as vítimas no Instagram e começava a seguir. Eu juntava as fotos porque ele queria ver.”

O promotor reforçou aos jurados que o crime foi cometido por motivo torpe, motivado pelo falso sentimento de “justiçamento”. “Ele escolhia jovens que, na concepção dele, eram traficantes de drogas. A Beatriz estava dormindo em sua casa, de madrugada, sem qualquer chance de defesa. E o filho dela, que repousava ao lado, também foi atingido. Não há justificativa possível para tamanha crueldade.”