Ataque em sinagoga de Jerusalém deixa 7 mortos após incursão violenta de Israel na Cisjordânia

Por redação com O Globo 27/01/2023 18h06
Por redação com O Globo 27/01/2023 18h06
Ataque em sinagoga de Jerusalém deixa 7 mortos após incursão violenta de Israel na Cisjordânia
Polícia israelense responde à cena de ataque em sinagoga em Jerusalém Oriental - Foto: AHMAD GHARABLI/AFP

Ao menos sete israelenses morreram nesta sexta-feira durante um ataque em uma sinagoga em Jerusalém Oriental, região sob ocupação de Tel Aviv. O episódio aumenta ainda mais as tensões um dia após à ação militar feita por Israel, sob o comando do governo mais de direita da sua História, que deixou dez palestinos mortos em Jenin, na também ocupada Cisjordânia.

Segundo a polícia, o responsável pelos disparos no perímetro da sinagoga Ateret Avraham no bairro de Neve Yaakov, no Norte de Jerusalém Oriental, foi morto pelas forças de segurança. Após atirar contra os fiéis, apontam informações preliminares, sua arma teria travado ou ficado sem munição, o que lhe fez entrar no carro para fugir do local quando a polícia chegou.

O atirador disparou contra os policiais por volta das 20h30 (15h30 no Brasil), desencadeando uma troca de tiros. O suspeito foi identificado como Alkam Khairi, morador de 21 anos de Jerusalém Oriental. Não há relatos de conexões prévias com movimentos islamistas.

É o ataque mais letal do tipo desde 2008, quando oito pessoas morreram em um atentado contra um seminário judeu, segundo a Chancelaria israelense. O serviço de emergência Magen David Adom relata ao menos dez feridos, entre eles uma idosa de 70 anos e um adolescente de 14 anos.

Segundo o site Haaretz, o atirador esperou do lado de fora da sinagoga até que os fiéis saíssem da cerimônia neste sabá, o descanso semanal dos judeus. A arma usada foi apreendida, e há relatos divergentes sobre o suspeito ter ou não entrado no centro religioso.

— É um ataque sério e complexo com um grande número de vítimas — disse o comissário da polícia israelense, Kobi Shabtai, a repórteres, afirmando que os oficiais fazem buscas na área para garantir que não há mais envolvidos. Segundo a al-Jazeera, é possível que houvesse uma segunda pessoa no carro.

O movimentos islamista Hamas disse à Reuters por meio de seu porta-voz, Hazem Qassem, que a operação é uma "resposta ao crime conduzido pela ocupação em Jenin e uma resposta natural às ações criminosas da ocupação". Outro porta-voz, Mohammad Hamada, que representa o braço do grupo na Cisjordânia, disse que "o povo palestino nunca vai se esquecer de seus mártires e vingar suas mortes", classificando o assentamento em Neve Yaakov como um "fardo pesado para os palestinos".

Ao menos dez feridos

Jerusalém Oriental, reivindicada pelos palestinos como a capital do Estado que pleiteiam para si, foi ocupada por Israel na Guerra dos Seis Dias, em 1967, quando os israelenses tomaram também quase 6 mil km² da Cisjordânia e de mais de 20 aldeias no leste da cidade. Conquistaram também as Colinas de Golã, a Faixa de Gaza e a Península do Sinai.

O Sinai foi devolvido ao Egito nos acordos de Camp David, de 1978, enquanto Gaza foi desocupada durante o governo de Ariel Sharon, em 2005. Os assentamentos israelenses nos territórios ocupados são considerados ilegais pelo direito internacional.

O Gabinete do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, que não se pronunciou até o momento, anunciou que ele está sendo atualizado sobre o ataque e que terá em breve uma reunião de segurança. O ministro de Segurança, o extremista Itamar Ben-Gvir, foi à cena do ataque, e defendeu mudanças nas regras para permitir que mais pessoas possam portar armas no país.

O episódio ocorreu horas após caças israelenses lançarem na madrugada desta sexta uma série de ataques aéreos em instalações na Faixa de Gaza, incluindo uma instalação subterrânea do Hamas. Tel Aviv retaliava contra o disparo de sete foguetes contra o território israelense, cuja autoria foi assumida pela organização palestina Jihad Islâmica.

O grupo também elogiou o ataque desta sexta, mas não assumiu a autoria. Em agosto do ano passado, atritos entre a Jihad Islâmica e Israel deixaram 44 mortos, incluindo 15 crianças e quatro mulheres, em três dias.

As tensões desta semana ganharam novos tons na quinta-feira, quando o Exército israelense fez sua letal operação em Jenin, no Norte da Cisjordânia, deixando os 10 mortos. Tel Aviv disse se tratar de uma ação de "contraterrorismo" contra a Jihad Islâmica, mas a Autoridade Nacional Palestina (ANP), que controla partes do território ocupado desde os Acordos de Oslo dos anos 1990, classificou o episódio como um "massacre" e abandonou a cooperação de segurança com os israelenses.

Segundo a ONU, uma operação militar israelense não registrava tantos mortos desde que a série histórica começou a ser contabilizada em 2005. O Alto Comissariado de Direitos Humanos das Nações Unidas fez um apelo nesta sexta pelo encerramento da "violência sem fim", afirmando estar "muito preocupado com o forte aumento das mortes de palestinos em operações israelenses na Cisjordânia ocupada".

Meses difíceis

Já prenunciava-se meses difíceis para a situação palestino-israelense desde que Netanyahu voltou ao poder no fim de dezembro após um interregno de 18 meses em que o país foi comandando por uma aliança que reunia siglas da esquerda à extrema direita para destroná-lo. Agora, o premier encabeça a coalizão mais à direita, homofóbica e antiárabe da História israelense.

As promessas de aumentar os assentamentos na Cisjordânia ocupada e a capacidade militar da nação, em particular, são motivo tensão com os palestinos. Outro ponto controverso foi uma decisão do Parlamento no fim do ano passado que deu ao Gabinete mais poderes sobre a polícia, que é controlada por Ben-Gvir, condenado em 2007 por incitação racista e por apoiar um grupo considerado por Israel e pelos EUA como uma organização terrorista.

Os americanos, maiores aliados de Israel, foram rápidos em sua condenação ao ataque "horrendo" em Jerusalém Oriental, às vésperas de uma viagem pré-agendada do secretário de Estado, Antony Blinken, ao país np fim de semana. Segundo o porta-voz Vedan Batel, Washington "condena nos termos mais enérgicos "este aparente atentado terrorista"

— Nosso compromisso com a segurança de Israel está blindado e estamos em contato direto com nossos parceiros israelenses — disse ele, afirmando que deve haver mudanças nos planos de Blinken. — Nós nos solidarizamos com o povo israelense.