Cientistas utilizam vírus do herpes no tratamento contra o câncer e resultados surpreendem

Por BBC 27/09/2022 17h05 - Atualizado em 27/09/2022 17h05
Por BBC 27/09/2022 17h05 Atualizado em 27/09/2022 17h05
Cientistas utilizam vírus do herpes no tratamento contra o câncer e resultados surpreendem
Vírus do herpes é utilizado no tratamento contra o câncer - Foto: Divulgação

Na busca por novos formas de tratamento para o câncer, pesquisadores de todo o mundo têm investido esforços no uso de vírus. Nesse tratamento oncológico promissor — mas ainda experimental —, agentes infecciosos editados geneticamente são usados para destruir o tumor, como uma medicação viva e mais inteligente.


No Reino Unido, cientistas do Instituto de Pesquisa do Câncer e da NHS Foundation Trust completaram, com sucesso, a Fase 1 dos testes clínicos para uma nova terapia oncológica, baseada em vírus. A "medicação" é constituída pelo vírus do herpes (Herpes simplex virus) enfraquecido e editado geneticamente em laboratório.


Segundo a equipe de cientistas britânicos, o vírus geneticamente modificado — que recebe o nome oficial de RP2 — age em duas frentes contra o tumor:


Ataca diretamente o câncer, invadindo as células cancerígenas e, literalmente, explodindo-as;
Ativando o sistema imunológico do paciente, ajudando a reforçar o combate contra o tumor.


Como funciona o uso de vírus no tratamento oncológico?



No estudo de Fase 1, os pesquisadores testaram o tratamento com o vírus do herpes em cerca de 40 pacientes com diferentes tipos de câncer, como o câncer das glândulas salivares e de esôfago. Para verificar a eficácia preliminar, um grupo de participantes também recebeu o remédio nivolumab — já aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para o uso no Brasil.


Entre os pacientes que receberam apenas o vírus, três em cada nove apresentaram melhora do quadro e o tumor encolheu. Agora, no grupo do RP2 e do nivolumab, sete em cada 30 que receberam tratamento combinado se beneficiaram da terapia. De forma geral, os efeitos adversos foram leves, como cansaço.


As respostas ao tratamento observadas foram "verdadeiramente impressionantes", explica Kevin Harrington, médico e um dos autores do estudo — que ainda deve ser publicado em uma revista científica —, para o canal BBC.


"É raro ver taxas de resposta tão boas em ensaios clínicos em estágio inicial, pois seu objetivo principal é testar a segurança do tratamento e envolvem pacientes com câncer muito avançado para os quais os tratamentos atuais pararam de funcionar", acrescenta.


Outras pesquisas com vírus no combate ao câncer



Somando o sucesso dos testes preliminares britânicos, outros grupos de pesquisadores desenvolvem estudos na mesma área de imunoterapia. É o caso de uma equipe de cientistas, composta por membros da Universidade Estadual de Ohio e da Universidade do Alabama em Birmingham, ambas localizadas nos Estados Unidos. Nos testes de Fase 1, os norte-americanos usaram o vírus do herpes para tratar, com sucesso, paciente com câncer cerebral.


Na Espanha, pesquisadores Instituto de Pesquisa Biomédica de Bellvitge e do Instituto Catalão de Oncologia testaram o uso de vírus para combater um câncer de pâncreas avançado. No estudo, o agente infeccioso adotado foi um adenovírus do tipo 5 (Ad5), que normalmente causa resfriados em humanos.


Com a leva de investimentos e de estudos no uso de vírus oncolíticos — em outras palavras, agentes infecciosos geneticamente modificados para reconhecer e atacar células tumorais — é provável que, nos próximos anos, seja possível recolher os primeiros benefícios desta nova forma de terapia.