Nordestina fatura R$ 1,5 milhão com tapioca nos EUA após anos fazendo faxina

Por Redação, com Universa UOL 19/07/2022 07h07
Por Redação, com Universa UOL 19/07/2022 07h07
Nordestina fatura R$ 1,5 milhão com tapioca nos EUA após anos fazendo faxina
Brasileira fatura R$ 1,5 milhão - Foto: Divulgação

Dedicação, coragem e uma boa dose de talento na cozinha fazem parte da trajetória da baiana Verônica Oliveira, 40 anos. Ela nasceu na fazenda Boa Vista, no município de Caraíbas (BA) e, aos 11 anos, mudou-se para Belo Campo, a 477 km de Salvador, com cerca de quatro mil habitantes na época. "Cresci na roça com sete irmãos, vendo minha mãe lavar roupa no rio. Passamos por momentos difíceis, como a falta de comida e de oportunidades, mas sempre tivemos muito amor e vontade de crescer e realizar", diz.

Verônica fez um curso de enfermagem e trabalhou por alguns anos no hospital da cidade. Até que uma demissão mudou seus planos. Frustrada com a situação e as condições de trabalho no Brasil, ela decidiu ir para os Estados Unidos. "Tinha só R$ 500 na conta, mas decidi arriscar. Parcelei a passagem no cartão de minha irmã e fui", afirma. Após quatro anos trabalhando como faxineira, ela investiu US$ 30 em um negócio de tapioca e hoje celebra a marca de US$ 1,5 milhão de faturamento no ramo da gastronomia.

Sem saber falar inglês, Verônica chegou no estado da Virgínia em 2009. A empreendedora começou a ir às lojas mais frequentadas por brasileiros ou com donos que falavam espanhol para tentar algo. "Eu chamava as pessoas perguntando se eram brasileiras, até que conheci Karine e Patrícia. Elas tinham uma empresa de limpeza e se disponibilizaram a me treinar", diz. Em uma semana, Verônica estava trabalhando. Depois de um tempo conheceu seu marido e mudou para Massachusetts. E foi lá que tudo fluiu com mais rapidez.

Após quatro anos limpando casas, escritórios e bancos, surgiu a ideia de fazer tapioca recheada para amigos e clientes após o expediente para aumentar a renda. Com apenas US$ 30 ela comprou os primeiros ingredientes e o que era para ser apenas uma fase se tornou um negócio com faturamento anual de US$ 1,5 milhão.

Em 2015, Verônica comprou um restaurante brasileiro em Massachusetts, o BR Takeout, com foco em comida mineira e nordestina e, um pouco depois, abriu uma fábrica de tapioca vegana, sem glúten, sem açúcar, sem conservantes e sem sódio —sua marca própria, a Tapioca da Baiana, tem produtos distribuídos em 50 estados do país. Agora o plano é entrar em uma rede de supermercado com 440 lojas nos EUA.

'Errar até acertar'

Verônica pensou em desistir algumas vezes. Mas a vontade de mudar sua vida e a da família foi como uma mola que a impulsionou. "Minha determinação e o desejo de crescer e superar os desafios foram maiores. Hoje, meu maior orgulho é poder oferecer uma vida boa para minha mãe, com mais saúde, qualidade e conforto", diz. Para ela, empreender não é apenas sobre o que você sabe e, sim, sobre o quanto se dedica. "Não existe sorte: é trabalhar, não desistir, errar e falhar no meio do caminho até acertar", afirma.

Quando ela começou a empreender não sabia nada de gestão e liderança, mas foi atrás de conhecimento e de pessoas que pudessem contribuir com o negócio. "Eu tinha duas opções: fechar a empresa ou aprender. E não tinha chegado até ali para desistir", diz. Verônica fez cursos de gestão e liderança, leu livros e teve mentores como Rachel Hollis, escritora americana nomeada pela Inc. Magazine uma das "30 empresárias mais importantes com menos de 30 anos"; e Bruno Avelar, especialista em networking.

- Eu sabia que precisava ser a melhor líder para ter a melhor equipe. Então, foquei nessa área e, para os outros setores, busquei profissionais no mercado.

"Sempre tive uma visão aberta para o crescimento. Não precisamos saber tudo, por isso fui em busca de pessoas para me auxiliarem nesses pilares", completa.

Hoje, Verônica tem 16 funcionários diretos e emprega 50 indiretamente. E também dá mentorias para outras mulheres interessadas em empreender.

Valores pessoais norteiam empresa

Para Verônica, um ponto essencial para construir seus negócios e ter sucesso foi não perder seus princípios e valores, e levá-los para suas empresas. "É comum, no empreendedorismo, as pessoas se perderem no caminho, mas sempre me lembro de minhas origens e do que acredito, que é valorizar as pessoas acima do dinheiro e sempre agradecer minhas conquistas e quem me ajudou a chegar até aqui", diz.

Karine e Patrícia, as irmãs que a ajudaram no começo, fazem parte da vida de Verônica até hoje. "Elas foram um presente, minha primeira família nos Estados Unidos. Nunca esquecerei o que fizeram por mim", afirma.

Segundo ela, empreender não se trata só de trabalhar e trabalhar. Alguns pilares pessoais são essenciais, como ter gratidão, pensar nos outros e dar suporte à equipe e a quem precisa. "Empreender não é fácil. Costumo dizer que é para quem tem sede de crescimento, pois precisamos buscar novos conhecimentos e soluções sempre", diz.

Para as mulheres, ela adiciona um item: ter, muitas vezes, que se provar. "No início eu chegava nos lugares e ouvia: 'Mas é só você? E seu marido?'". E até hoje há questionamentos desse tipo: "Você consegue ser uma boa mãe empreendendo?". Mas Verônica nunca deixou esses comentários atrapalharem sua jornada. Até porque, contra resultados não há argumentos. "Se você tem um sonho e trabalha para tirá-lo do papel, vai conseguir", completa.