Pastora de AL registra BO após receber ameaças de morte por realizar casamento homoafetivo

Por Redação com GazetaWeb 14/12/2021 19h07
Por Redação com GazetaWeb 14/12/2021 19h07
Pastora de AL registra BO após receber ameaças de morte por realizar casamento homoafetivo
Pastora celebra casamento entre duas mulheres em Maceió - Foto: Arquivo Pessoal

A pastora batista e teóloga Odja Barros, que realizou o primeiro casamento entre duas mulheres, celebrado por uma autoridade religiosa em Alagoas, denunciou, nesta terça-feira (14), que está sofrendo ameaças depois do ato religioso.

De acordo com Odja, um homem, que diz ser de Maceió, enviou áudios em que ameaça matar a religiosa por ela ter celebrado o casamento.

“Disse que ia me matar, que iria atirar na minha cabeça. Disse que sabe onde estou e quem são as pessoas próximas a mim. Isso ultrapassou o que eu, até então, estava administrando de mensagens de ódio”, relatou a pastora à Gazetaweb.

Além de enviar mensagens no perfil pessoal da religiosa, o suspeito enviou fotografias em que colocava uma bíblia ao lado de uma arma, reforçando a motivação para as ameaças.

“Ele se diz religioso, cristão. Mandou foto com a arma e a bíblia. Esse tipo de comportamento tem se multiplicado nesse ambiente fundamentalista religioso que estamos vivendo. Não podemos mais ficar recebendo esse tipo de coisa e dizer ‘tá bom’, precisamos reagir”, afirma Odja Barros.

No começo da tarde de hoje, familiares da pastora compartilharam o apelo para que as autoridades alagoanas dessem atenção ao caso. Além de formalizar a situação em um Boletim de Ocorrência, a pastora procurou a Secretaria da Mulher e dos Direitos Humanos do Estado de Alagoas.

“Acredito que nesses momentos precisamos ter o máximo de proteção. E entendo que o que eu estou vivendo tem a ver com os direitos humanos. Estou sofrendo esses ataques em função da nossa fé, da Igreja Batista do Pinheiro.”

“A minha mãe recebeu ameaças de morte no Instagram dela. Um louco, que se diz de Maceió, mandou foto de arma, áudios dizendo que estava monitorando ela e a família, que vai dar cinco tiros na cabeça dela por celebrar um casamento homoafetivo”, postou a filha da pastora em uma rede social. "Eu tô sem chão com isso tudo”, completou.

MENSAGENS DE ÓDIO


Segundo Odja Barros, as mensagens de ódio em seu perfil pessoal começaram após perfis de fofocas compartilharem a notícia sobre a celebração do casamento religioso. Ela precisou da ajuda das filhas para administrar a quantidade de mensagens que estava recebendo nas redes sociais e, juntas, acabaram se deparando com a mensagem mais grave.

“Conversamos com policiais e advogados que são membros da igreja. Eles me orientaram a fazer a denúncia formal e estamos procedendo com essa seriedade, até para cobrar e visibilizar esse tipo de intolerância, que envolve ódio, homofobia e misoginia. Isso é claro nas mensagens, ele me ofende na minha posição de mulher, pastora e teóloga. São mensagens ofensivas e absurdas, coisa terríveis”, conta a pastora.

De acordo com a pastora, amanhã ela se reunirá com autoridades para pedir celeridade na identificação do autor das ameaças.

“Isso me deixa muito vulnerável. Sou pastora, minha atividade é pública. Ministro na igreja, onde as pessoas entram livremente”, afirmou.

ENTENDA O CASO


No sábado, 11 de dezembro, a pastora e teóloga Odja Barros, da Igreja Batista no Pinheiro, em Maceió, realizou pela primeira vez um casamento entre duas mulheres. De acordo com a religiosa, que tem 28 anos de pastorado, o casamento foi como qualquer outro em termos de ritos.

A união homoafetiva ocorreu em um salão de festas da capital alagoana. Apesar de não ser o primeiro casamento entre pessoas do mesmo sexo realizado por pastores no Brasil, foi a primeira cerimônia celebrada por uma mulher, que em muitas igrejas batistas sequer podem exercer função de liderança.