56 cidades de SP cancelam Carnaval de 2022 por medo de contaminação em massa pela Covid-19

Por redação com Folha de São Paulo 23/11/2021 20h08 - Atualizado em 23/11/2021 21h09
Por redação com Folha de São Paulo 23/11/2021 20h08 Atualizado em 23/11/2021 21h09
56 cidades de SP cancelam Carnaval de 2022 por medo de contaminação em massa pela Covid-19
Foliões se aglomeram em tradicional Carnaval de rua em São Luiz do Paraitinga - Foto: Luciano Coca

São Luiz do Paraitinga, cidade que realiza um tradicional Carnaval de rua, cancelou nesta terça-feira (23) a edição de 2022 da folia de rua. A lista de municípios que não terão a festa chega a 56 no interior paulista, litoral e Grande São Paulo.

A principal justificativa das prefeituras é o medo de que a aglomeração intensifique a contaminação da Covid-19 e, assim, gere uma nova onda da pandemia.

No estado de São Paulo, 73,5% da população está com o esquema primário da vacina contra Covid completo, e 83,8% está com ao menos uma dose do imunizante contra o coronavírus.

O Carnaval de rua de 2022 na capital paulista ainda depende das aprovações dos órgãos de Saúde que avaliam o cenário epidemiológico da pandemia da Covid-19. A prefeitura recebeu 867 inscrições de desfiles de blocos de rua –os cortejos serão entre os dias 19 de fevereiro e 6 de março.

Em nota, a Prefeitura de São Luiz do Paraitinga afirmou que o atual momento ainda necessita de atenção e responsabilidade, não sendo propício para um evento de tamanha magnitude.

"É com pesar que se tomou essa decisão, já que não ignoramos o quanto nosso povo se identifica com essa manifestação cultural e ainda o quanto ela representaria para a economia local", informa a nota. "O Poder Público não pode se furtar de exercer sua função de zelar pela saúde pública, que é o bem mais importante de todos."

Em Sorocaba, a prefeitura afirmou que deixará de investir recursos públicos no Carnaval de 2022, mas não proíbe parcerias entre blocos e a iniciativa privada. A gestão Rodrigo Manga (Republicanos) promete aplicar a verba da folia em saúde, educação e segurança.

Numa reunião conjunta em Guariba (a 339 km de São Paulo), 12 prefeituras decidiram não realizar o Carnaval do ano que vem, entre elas Jaboticabal, Taquaritinga e Monte Alto.

"Foi decidido por unanimidade que as cidades não realizarão o Carnaval em respeito às vítimas da Covid-19 e também o receio de uma nova onda do coronavírus", afirmou o prefeito de Guariba, Celso Romano (PSDB).

Em Franca, o prefeito Alexandre Ferreira (MDB) anunciou nesta segunda-feira (22) que não haverá eventos promovidos pela prefeitura no Carnaval do ano que vem.

Ele alegou que o trânsito de pessoas de outros municípios para a cidade é uma preocupação, mesmo com a maior parte da população já tendo recebido duas doses da vacina contra a Covid-19.

"Atravessamos a pior fase da pandemia neste ano. Todos nós sofremos muito, perdemos muitas pessoas. [...] Depois de tanto sofrimento, tanta angústia, dor e esforço, não podemos mais correr riscos", afirmou o prefeito.

CIDADES QUE CANCELARAM O CARNAVAL


Altinópolis

Barrinha

Borborema

Botucatu

Brodowski

Cabreúva

Caçapava

Caconde

Cajuru

Cássia dos Coqueiros

Cunha

Dobrada

Dumont

Franca

Guariba

Ibitinga

Itápolis

Itupeva

Jaboticabal

Jarinu

Jundiaí

Lins

Louveira

Mogi das Cruzes

Monte Alto

Monteiro Lobato

Natividade da Serra

Orlândia

Paraibuna

Pitangueiras

Pradópolis

Poá

Potirendaba

Roseira

Sales Oliveira

Salesópolis

Santa Cruz da Esperança

Santa Ernestina

Santa Isabel

Santa Rosa do Viterbo

Santo Antônio da Alegria

Santo Antônio do Pinhal

São Bento do Sapucaí

São Joaquim da Barra

São Luiz do Paraitinga

São Simão

Sarapuí

Sorocaba

Suzano

Taquaritinga

Taubaté

Ubatuba

Urupês

Valinhos

Várzea Paulista

Vinhedo

Na opinião do infectologista Evaldo Stanislau de Araújo, assistente-doutor da Divisão de Moléstias Infecciosas e Parasitárias do Hospital das Clínicas, professor universitário e consultor em saúde pública e privada, é preciso aprender com a pandemia. O Carnaval desempenhou um papel muito importante na amplificação e na velocidade com que a Covid-19 se instalou no Brasil.

"Nós demos margem para que o Carnaval servisse como um grande disseminador. O segundo aspecto de lições aprendidas é a Europa, com novo aumento de casos em países onde a vacinação é menor, inclusive com gravidade. Onde a vacinação está mais consolidada, há casos, mas sem aumento de mortalidade", explica Araújo.

"Eu ressaltaria que pouco mais da metade da população mundial está vacinada contra a Covid. Isso significa que há possibilidade real de que, neste momento, em algum lugar do mundo, uma nova variante esteja sendo gerada e possa ganhar o mundo. Todas essas já seriam razões para parar e refletir."

O especialista ainda aponta outro fator: a qualidade da resposta imunológica. O Brasil tem uma população recém-vacinada e muito exposta ao vírus por infecção natural.

"Desta forma, a nossa memória imunológica na quantidade de imunidade que a gente tem é relativamente alta neste momento. Se a gente for olhar daqui a poucos meses, no Carnaval, pode ser que não tenhamos uma memória imunológica tão robusta", ressalta o especialista.

"Se por acaso cometermos algum deslize na nossa política vacinal, isso cobrará um preço, porque, com a circulação de brasileiros para fora do país e de estrangeiros no Brasil durante as festas de fim de ano e Carnaval, poderemos ter a introdução de variantes e um espalhamento de vírus", diz Araújo.

"Temos que ser bem claros. Não há máscara e nem distanciamento, e nós temos um ambiente bem propício para a disseminação do vírus. Por todas essas razões, o Carnaval 2022 é um equívoco. Se todas essas razões não bastassem, temos outra moral e ética, que é a lembrança de mais de 600 mil brasileiros que morreram de Covid-19", completa.

Para Renato Grinbaum, consultor da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), a decisão é difícil e não é uma questão de sim ou não. "Se continuarmos do jeito que estamos hoje, pode manter, mas as pessoas precisam usar máscaras. Aliás, o Carnaval é uma ótima oportunidade para usar máscara. O país tem que voltar a funcionar. A pandemia não acabou, mas o Brasil precisa passar pelo risco", afirma.