Em depoimento à PF, Paulo Cerqueira disse que dava ajuda a acusado de matar advogado em atentado contra juiz

Por da redação com GazetaWeb 10/04/2021 09h09
Por da redação com GazetaWeb 10/04/2021 09h09
Em depoimento à PF, Paulo Cerqueira disse que dava ajuda a acusado de matar advogado em atentado contra juiz
Ex- Delegado-geral Paulo Cerqueira - Foto: Emerson Lima

Em depoimento à Polícia Federal no último dia 12 de março, o agora ex-delegado-geral da Polícia Civil de Alagoas (PC/AL), Paulo Cerqueira, contou que Wendell Guarnieri era seu informante e que “dava uma ajuda” ao criminoso em troca das informações que recebia. A Gazetaweb teve acesso à íntegra do depoimento.

Wendell Guarnieri é o homem apontado como autor do atentado contra o juiz Marcelo Tadeu que terminou na morte, por engano, do advogado mineiro Nudson de Freitas, em 2009. Paulo Cerqueira foi indiciado pela PF como autor intelectual do crime.

Questionado pelo delegado federal sobre que tipo de contrapartida Wendell exigia em troca de informações, Cerqueira disse, primeiramente, que “nada”, depois acrescentou que eventualmente comprava leite (alimento) para o filho da companheira de Wendell. Por fim, Cerqueira disse que “dava uma ajuda”.

O delegado federal questionou que tipo de ajuda, ao passo que Cerqueira disse que chegou a fornecer cesta básica e coisas do tipo. O federal então perguntou se Cerqueira usava recursos próprios para tal finalidade e ele confirmou que sim, e que não era reembolsado por estas despesas.

Paulo Cerqueira entregou o cargo de delegado-geral da PC/AL nesta sexta-feira (9). Por meio de nota, ele disse que tomou tal iniciativa para não permitir ataques infundados aos serviços prestados pela Polícia Civil.

Ligações sumiram


A investigação da Polícia Federal (PF) que apurou a morte do advogado mineiro Nudson de Freitas, que seria um atentado contra o juiz Marcelo Tadeu, deparou-se com uma série de ligações telefônicas do autor material do crime que, mesmo interceptadas, tiveram o conteúdo retirado ou sonegado do inquérito policial conduzido por Paulo Cerqueira.

Segundo documento da PF que a Gazetaweb teve acesso, as ligações eram quase exclusivamente entre Antônio Wendell de Melo Guarniere e Paulo Cerqueira ou alguém de sua equipe. O documento mostra que o delegado e sua equipe monitoraram Wendel Guarniere nos dias que antecederam o crime.

O inquérito da PF aponta, ainda, que Wendell Guarniere trocou o chip telefônico que usava na véspera do atentado; mesmo assim, a interceptação continuou. Em depoimento, Wendell e sua companheira, à época, disseram que foi Paulo Cerqueira e sua equipe que orientaram a troca de chip.

Segundo a investigação federal, após a troca de chip, Wendell recebeu uma ligação de Cerqueira logo depois. Esta conversa durou um minuto e quarenta e quatro segundos, mas o seu conteúdo é desconhecido até hoje, pois, segundo a PF, foi sonegado ou apagado por policiais ligados a Paulo Cerqueira.

Outra informação descoberta pela PF é que existe um diálogo de Wendell com outro homem que iria participar do crime em que Wendell afirma que “irá pilotar a moto” e o outro homem executará o “serviço”. Este homem é identificado como “Pitbull”. O inquérito da PF diz que Paulo Cerqueira era informado do conteúdo dos principais diálogos monitorados.

Despesas pagas


O inquérito da Polícia Federal aponta que o delegado Paulo Cerqueira pagou, com recursos da Polícia Civil, algumas despesas de Antônio Wendell de Melo Guarniere. A investigação descobriu, também, que Wendell Guarnieri ficou sob a "custódia" da DEIC, comandada à época por Cerqueira, e, mesmo após expirado o prazo de uma prisão temporária, ele foi hospedado em um apartamento e uma pousada, estes pagos com recursos da Polícia Civil de Alagoas (PC/AL).