FBI indicia filho de brasileiros envolvido no ataque ao Congresso dos EUA

Por Folha de São Paulo 18/01/2021 16h04
Por Folha de São Paulo 18/01/2021 16h04
FBI indicia filho de brasileiros envolvido no ataque ao Congresso dos EUA
Brasileiro indiciado - Foto: Reprodução

No âmbito das investigações de centenas de pessoas que invadiram e vandalizaram o Congresso dos Estados Unidos, Samuel Camargo, 26, foi indiciado pelo FBI (polícia federal americana) por ter se envolvido nos atos de insurreição insuflados por Donald Trump.

Filho de brasileiros, Camargo nasceu em Boston, no estado de Massachusetts e hoje mora em Fort Myers, na Flórida. De acordo com pessoas próximas ouvidas pela Folha, ele é um apoiador do líder republicano e participou dos comícios em Washington e dos atos contra o Capitólio para "defender aquilo em que acredita".

De acordo com uma pessoa que preferiu não ser identificada, ele não é um terrorista, não tem armas nem arriscaria sujar sua ficha criminal. No entendimento do FBI, entretanto, Camargo cometeu ao menos quatro crimes durante os protestos.

Segundo a denúncia da agência federal, Camargo responderá por obstruir o trabalho de agentes das forças de segurança; por entrar em local restrito sem autoridade para fazê-lo; por envolver-se conscientemente em ato de violência física contra pessoas ou propriedades em locais restritos; e por usar conduta desordenada ou perturbadora para interromper uma sessão do Congresso —no caso, a certificação da vitória do presidente eleito dos EUA, Joe Biden.

A forma como as autoridades conseguiram identificar Camargo como um dos invasores do Capitólio ilustra uma das principais estratégias de investigação do FBI para responsabilizar criminalmente os envolvidos no ataque ao Congresso: denúncias por meio de imagens publicadas na imprensa e nas redes sociais.


"Se você testemunhou ações violentas ilegais ou conhece alguém que participou dessas ações ilegais, recomendamos que envie quaisquer informações, fotos ou vídeos que possam ser relevantes", diz a agência federal em uma página criada exclusivamente para a investigação dos atos em Washington.

No caso de Camargo, a primeira denúncia foi feita no mesmo dia da invasão. Uma testemunha enviou ao FBI uma publicação em que ele mostrava, por meio da ferramenta de "stories" em seu perfil no Instagram, um "pedaço de metal de uma estrutura desconhecida do prédio do Capitólio" —segundo Camargo, um objeto que ele mesmo pegou para levar de recordação.

No dia seguinte, outras publicações de Camargo foram enviadas aos agentes federais. Nas imagens, ele aparece em vários comícios ao longo do dia em Washington. Depois, os vídeos o mostram subindo a escadaria do Capitólio ao lado de uma multidão. Por fim, Camargo aparece com outras pessoas tentando forçar a entrada no edifício pela porta que estava sendo protegida pelos agentes de segurança.

A denúncia do FBI apresenta ainda a reprodução de uma publicação no Facebook em que Camargo pede desculpas ao seus familiares, amigos e a todo o povo dos EUA por suas "ações no Capitólio" horas depois da invasão.

"Estive envolvido nos eventos que ocorreram hoje cedo. Eu vou sair das redes sociais em um futuro próximo e vou cooperar com todas as investigações que possam surgir de meu envolvimento. Me desculpo com todas as pessoas que decepcionei, pois isso não é quem eu sou nem o que defendo", escreveu ele.

Nos bastidores, porém, Camargo não está arrependido do que fez, segundo o que a reportagem apurou. Uma pessoa próxima ouvida pela Folha disse que ele ter publicado tudo nas redes sociais foi uma bobagem e que, ainda que ele seja preso, vai manter a ideia de que lutou por aquilo em que acreditava.

O agente especial do FBI Michael Attard, que assina a denúncia, diz no documento que falou com Camargo por telefone. Segundo Attard, o jovem não se mostrou disposto a cooperar com as investigações, disse ao agente que não tinha informações a fornecer e ainda questionou sua lealdade à Constituição dos EUA.

Horas depois, Camargo fez uma nova publicação no Facebook. "Acabei de falar com um agente do FBI. Acredito que fui inocentado", escreveu ele, demonstrando uma percepção equivocada do próprio caso.

A Folha entrou em contato com Camargo, mas não obteve respostas até a publicação desta reportagem.