29 de outubro é o Dia Mundial do AVC; entenda quais sintomas e riscos

Por Sidinéia Tavares/Redação 29/10/2020 10h10 - Atualizado em 29/10/2020 11h11
Por Sidinéia Tavares/Redação 29/10/2020 10h10 Atualizado em 29/10/2020 11h11
29 de outubro é o Dia Mundial do AVC; entenda quais sintomas e riscos
AVC - Foto: Ilustração

O dia 29 de outubro é data escolhida para alertar a sociedade sobre os riscos do Acidente Vascular Cerebral (AVC). A doença é a segunda maior causa de morte no Brasil e a que causa mais incapacidade no mundo, por isso, o Portal Já É Noticia fez uma entrevista sobre o assunto com o médico neurologista, Matheus Pires, que atua na UTI neurológica do Hospital Memorial Arthur Ramos e que atende na Medicor Pajuçara.

Portal Já É Notícia: Como identificar os primeiros sinais de AVC?

Doutor Matheus Pires: O AVC pode dar uma quantidade de sintomas muito grande, mas existem alguns sinais clássicos: perda da simetria do rosto (popularmente chamada de boca torta), fala embolada, fraqueza em um dos braços, em uma das pernas ou um lado do corpo, também há dificuldade de caminhar e até perda de sensibilidade do lado do corpo. Temos aquelas siglas do SAMU, o S de sorrir (para ver se há simetria da face), o A de abraçar (para ver se os dois braços se levantam), o M de música (para ver se a voz está normal), e o U de Urgência (para acionar o serviço de saúde).

Portal Já É Notícia: Quantos tipos de AVC existem e quais as formas de diferencia-los?

Doutor Matheus Pires: São o AVC isquêmico e o hemorrágico. O AVC isquêmico corresponde a cerca de 80% a 85% dos casos de AVC isquêmico. Ele ocorre quando o vaso fecha e o sangue não chega ao tecido cerebral. O AVC hemorrágico é quando o vaso rompe, ocasionando a perda de fluxo sanguíneo local e um hematoma intracraniano.

Clinicamente, não há como diferenciar tão bem os dois tipos de AVC, os sintomas são muito parecidos, porque a lesão tecidual acontece. Mas o AVC hemorrágico tem uma chance maior de ter dor de cabeça associada, pois o sangue irrita e causa um efeito de massa, aumenta a pressão intracraniana e pode gerar dor de cabeça no paciente. O paciente do AVC isquêmico também pode se queixar de dor de cabeça, mas em um percentual bem menor.

Portal Já É Notícia: Quanto tempo médio de socorro é necessário para evitar a morte em casos de AVC?

Doutor Matheus Pires: Não existe um tempo específico para salvar a vida, ou evitar a morte. Hoje a gente tem uma evidência que a cada um minuto o paciente perde em média 1,8 a 2 milhões de neurônios, e os tratamentos para o AVC isquêmico são baseados no tempo. Até 4 h e 30 mim do início dos sintomas, existe um tratamento, uma medicação colocada na veia, com o intuito de dissolver o coagulo que se formou do AVC. E até 24h a gente pode utilizar o que chama de trombectomia mecânica, que é um cateterismo cerebral, com intuito de retirar aquele coágulo que fechou o vaso. Claro que não é todo paciente que tem indicação para esse tipo de tratamento, mas aqueles que fazem são beneficiados e tem uma evolução mais favorável.

Portal Já É Notícia: Muitos falam que o uso de Aspirina previne maiores complicações da doença. Até que ponto é verdade ou mito?

Doutor Matheus Pires: É muito perigoso utilizar aspirina antes da tomografia. Aspirina, sem dúvida, no AVC isquêmico é uma medicação que vai ser importante, mas no AVC hemorrágico é uma medicação que pode aumentar a hemorragia. A indicação para usar aspirina, para prevenir o AVC é para quem já teve AVC. Não existe uma evidência que utilizar aspirina será positivo para não ter AVC. Existem indicações muito bem descritas, muito bem delimitadas no benefício da aspirina para determinados pacientes, mas utilizar por conta própria pode levar a mais riscos do que benefícios.

Portal Já É Notícia: Todo paciente que sofre AVC fica com sequelas?

Doutor Matheus Pires: O AVC é uma doença muito ampla. Pode haver indivíduos com AVC leve e indivíduos com AVC grave. A avaliação do neurologista, o tratamento rápido, se o paciente vai utilizar os tratamentos que citei acima, e o acompanhamento junto ao neurologista, a fonoaudiologia, a fisioterapia, são muito importantes. Então, para falar de sequelas tem que pensar quais foram os sintomas do paciente, o tamanho do AVC, através da tomografia, o cuidado do paciente após o AVC, e o tempo. A gente pode falar sobre a probabilidade de sequelas reais após 12 semanas, que é o tempo que o cérebro tem para se recuperar. É claro que a gente tem uma ideia do grau de incapacidade a partir da avaliação clínica do paciente e do tamanho da lesão. A gente olha uma tomografia que o paciente perdeu uma porcentagem cerebral muito grande e ele vai ter sequelas importantes, mas só dá para afirmar categoricamente, após as avaliações.

Portal Já É Notícia:  Quais os cuidados necessários para a ampla recuperação após ser acometido pela doença?

Doutor Matheus Pires: Cuidar dos fatores de risco. Investigar a causa do AVC, pois ele não surge do nada, existem causas específicas. O acompanhamento posterior com o uso de medicações corretas, fazer fisioterapia, fonoterapia, acompanhamento com neurologistas, isso tudo modifica a evolução da doença, tanto na melhora quando em evitar que o paciente tenha um novo AVC. O paciente que tem um AVC tem um alto risco de ter outro AVC.

Portal Já É Notícia: Qual a média quantitativa de alagoanos vítimas de AVC no último ano? E qual porcentagem a doença levou a morte?

Doutor Matheus Pires: A gente não tem uma análise precisa, principalmente neste momento de pandemia que tudo se voltou para o coronavírus. A gente pode expandir para a população do Brasil onde há uma estimativa que 1 a cada 4 pessoas é acometida pelo Acidente Vascular Cerebral. É a segunda causa de morte no nosso país, e a principal causa de incapacidade no mundo e no Brasil. Em relação a taxa de mortalidade, os últimos dados mostram que 108 mortes por 100 mil habitantes. A taxa de mortalidade hospitalar pode chegar a 30% dos vítimas de AVC. Um número alto para uma doença em específica.