Beijo gay escrito por Nelson Rodrigues volta com tudo ao teatro

A peça "O Beijo no Asfalto" voltou com tudo aos palcos nacionais. O texto escrito 55 anos atrás está em cartaz em dois teatros de São Paulo e ganhará versão musical no Rio a partir de outubro.
Em 1960, muita gente ficou chocada com a peça de Nelson Rodrigues (1912-1980). Nela, o dramaturgo também chamado de "O Anjo Pornográfico" baseava o enredo no beijo entre dois homens.
O espetáculo conta a história de Arandir, um jovem casado que vê outro homem ser atropelado no centro carioca. Ao tentar socorrê-lo, o acidentado lhe pede um beijo como último desejo antes de morrer. Arandir dá o beijo, mas história ganha contornos sensacionalistas de um jornalista inescrupuloso testemunha da cena.
Mais de meio século depois, o Brasil ainda faz polêmica em torno de um beijo entre duas pessoas do mesmo sexo. Basta lembrar do recente beijo em horário nobre da TV dado por Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg na novela "Babilônia", que gerou forte reação de setores conservadores da sociedade.
Se algumas coisas mudaram no Brasil nos últimos 55 anos, outras permanecem as mesmas. Talvez aí more a atualidade do texto, o que fez com que os diretores Jair Aguiar e Marco Antonio Braz, em São Paulo, e João Fonseca, no Rio, quisessem revisitar a peça.
Imprensa e manipulação
Para João Fonseca, que dirigiu recentes musicais de sucesso sobre Tim Maia e Cazuza, a obra faz os personagens revelarem preconceitos e também sua repressão sexual. "Acho que Nelson é sempre um visionário, um autor que sempre rompeu convenções e que estuda a fundo as relações humanas mais básicas".
O diretor ressalta que a peça fala de outros assuntos além do beijo. E vê um deles como primordial. "O principal é a manipulação que um meio de comunicação, no caso um jornal, pode fazer com uma pessoa e destruir uma vida. As pessoas passam a acreditar no que leem e não necessariamente na verdade. Hoje, sabemos o que um post falso na internet pode fazer", aponta.
Em São Paulo, Jair Aguiar concorda, ao lembrar que a encenação também mostra "o papel da imprensa como o quarto poder". E diz que, "pelo que vemos da política nacional", o texto de "'O Beijo no Asfalto' vai continuar atual por muitos anos". Aguiar diz que a obra nos permite repensar nossa sociedade e, mais do que apontar o beijo dado pelos dois personagens como um "beijo gay", na peça "o beijo é símbolo dos preconceitos gerais".
Na pele de Arandir na montagem paulistana dirigida por Aguiar no Espaço dos Parlapatões, o ator Antonio Netto lembra que "clássicos não desaparecem, porque são atuais sempre". "É indiscutível a atualidade do texto. Até a inflação está de volta", provoca. E completa: "A manipulação pode vir de todos os lados e todos estamos sujeitos à influência de atitudes escusas em nome do poder de poucos".
Para Netto, a polêmica em torno de um beijo entre dois homens mantém o povo na ignorância.
Preconceito
Colega de elenco de Netto, o jornalista Leão Lobo, que também é ator e vive duas mulheres fofoqueiras na obra, faz esta peça pela primeira vez. Para ele, "o preconceito ainda continua muito forte nos dias atuais". Por isso, conta que, desde a primeira leitura, teve a sensação de que "o texto havia sido escrito no mês passado".
Lobo aponta o sucesso da obra com o Grupo de Segunda da Cia. das Artes no fato de "Nelson Rodrigues ter sido uma pessoa muito ligada ao seu país; ele via as pessoas como elas são". E alfineta: "Tem muitos que conseguem observar, mas não ver realmente", antes de definir que "O Beijo no Asfalto" mostra que "o inimigo do homem é o próprio homem".
O ator Marcos Breda, que interpreta o repórter Amado Ribeiro na montagem dirigida por Braz no Teatro Augusta, tem visão semelhante à de Lobo, já que afirma que Rodrigues sabia expor o brasileiro "com todas as suas obsessões, taras, mesquinharias, sordidez e miséria". Para Breda, a peça é necessária, pois "o brasileiro médio ainda é reacionário e preconceituoso desde sempre".
Ator que dá vida ao jovem Arandir, o homem que sofre na pele a perseguição midiática e até da polícia pelo beijo, na montagem feita por Breda, Cal Titanero vê a sociedade brasileira como preconceituosa em grande parte, apesar de apontar leves melhoras: "Pelo menos evoluímos ao ponto de ser preconceituoso não ser mais algo bom de se mostrar, então, eles precisam se camuflar".
Ele lembra que o beijo entre Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg na novela fez este preconceituoso camuflado "se revelar". No olhar de Titanero, mais do que "um beijo gay", o beijo que Arandir dá em outro homem "é um gesto de amor".
Ao contrário do que aconteceu na televisão, o ator diz que no teatro a reação da plateia tem sido positiva à discussão proposta pelo espetáculo. "Um 'beijo gay' nada mais é que um beijo somente. E a peça O Beijo no Asfalto mostra exatamente isso: podia ser uma mulher, podia ser até uma criança ou um animal. Ele não se importou com que os outros iriam falar. O beijo de Arandir foi um ato de bondade, deturpado por outras pessoas como se fosse um crime. Não é. É um gesto de amor".
Serviço
O Beijo no Asfalto, versão do diretor Marco Antonio Braz
Quando: Sexta, 21h30, sábado, 21h, domingo, 19h. Até 27 de setembro
Onde: Teatro Augusta - rua Augusta, 943, Consolação, São Paulo
Quanto: R$ 40
Duração: 70 minutos
Classificação etária: 16 anos
Mais informações: 11 3151-4141
O Beijo no Asfalto, versão do diretor Jair Aguiar
Quando: Quarta e quinta, 21h. Até 15/10/2015
Onde: Espaço dos Parlapatões - praça Roosevelt, 158, centro, São Paulo
Quanto: R$ 40
Duração: 80 minutos
Classificação etária: 12 anos
Mais informações: 11 3258-4449
O Beijo no Asfalto, o Musical - versão do diretor João Fonseca - RJ
Quando: De 9 de outubro a 8 de novembro. Quinta a sábado, 19h, domingo, 18h.
Onde: Teatro Sesc Ginástico - av. Graça Aranha, 187, centro, Rio
Quanto: R$ 20
Classificação etária: Não informada
Mais informações: 21 2279-4027
Em 1960, muita gente ficou chocada com a peça de Nelson Rodrigues (1912-1980). Nela, o dramaturgo também chamado de "O Anjo Pornográfico" baseava o enredo no beijo entre dois homens.
O espetáculo conta a história de Arandir, um jovem casado que vê outro homem ser atropelado no centro carioca. Ao tentar socorrê-lo, o acidentado lhe pede um beijo como último desejo antes de morrer. Arandir dá o beijo, mas história ganha contornos sensacionalistas de um jornalista inescrupuloso testemunha da cena.
Mais de meio século depois, o Brasil ainda faz polêmica em torno de um beijo entre duas pessoas do mesmo sexo. Basta lembrar do recente beijo em horário nobre da TV dado por Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg na novela "Babilônia", que gerou forte reação de setores conservadores da sociedade.
Se algumas coisas mudaram no Brasil nos últimos 55 anos, outras permanecem as mesmas. Talvez aí more a atualidade do texto, o que fez com que os diretores Jair Aguiar e Marco Antonio Braz, em São Paulo, e João Fonseca, no Rio, quisessem revisitar a peça.
Imprensa e manipulação
Para João Fonseca, que dirigiu recentes musicais de sucesso sobre Tim Maia e Cazuza, a obra faz os personagens revelarem preconceitos e também sua repressão sexual. "Acho que Nelson é sempre um visionário, um autor que sempre rompeu convenções e que estuda a fundo as relações humanas mais básicas".
O diretor ressalta que a peça fala de outros assuntos além do beijo. E vê um deles como primordial. "O principal é a manipulação que um meio de comunicação, no caso um jornal, pode fazer com uma pessoa e destruir uma vida. As pessoas passam a acreditar no que leem e não necessariamente na verdade. Hoje, sabemos o que um post falso na internet pode fazer", aponta.
Em São Paulo, Jair Aguiar concorda, ao lembrar que a encenação também mostra "o papel da imprensa como o quarto poder". E diz que, "pelo que vemos da política nacional", o texto de "'O Beijo no Asfalto' vai continuar atual por muitos anos". Aguiar diz que a obra nos permite repensar nossa sociedade e, mais do que apontar o beijo dado pelos dois personagens como um "beijo gay", na peça "o beijo é símbolo dos preconceitos gerais".
Na pele de Arandir na montagem paulistana dirigida por Aguiar no Espaço dos Parlapatões, o ator Antonio Netto lembra que "clássicos não desaparecem, porque são atuais sempre". "É indiscutível a atualidade do texto. Até a inflação está de volta", provoca. E completa: "A manipulação pode vir de todos os lados e todos estamos sujeitos à influência de atitudes escusas em nome do poder de poucos".
Para Netto, a polêmica em torno de um beijo entre dois homens mantém o povo na ignorância.
Preconceito
Colega de elenco de Netto, o jornalista Leão Lobo, que também é ator e vive duas mulheres fofoqueiras na obra, faz esta peça pela primeira vez. Para ele, "o preconceito ainda continua muito forte nos dias atuais". Por isso, conta que, desde a primeira leitura, teve a sensação de que "o texto havia sido escrito no mês passado".
Lobo aponta o sucesso da obra com o Grupo de Segunda da Cia. das Artes no fato de "Nelson Rodrigues ter sido uma pessoa muito ligada ao seu país; ele via as pessoas como elas são". E alfineta: "Tem muitos que conseguem observar, mas não ver realmente", antes de definir que "O Beijo no Asfalto" mostra que "o inimigo do homem é o próprio homem".
O ator Marcos Breda, que interpreta o repórter Amado Ribeiro na montagem dirigida por Braz no Teatro Augusta, tem visão semelhante à de Lobo, já que afirma que Rodrigues sabia expor o brasileiro "com todas as suas obsessões, taras, mesquinharias, sordidez e miséria". Para Breda, a peça é necessária, pois "o brasileiro médio ainda é reacionário e preconceituoso desde sempre".
Ator que dá vida ao jovem Arandir, o homem que sofre na pele a perseguição midiática e até da polícia pelo beijo, na montagem feita por Breda, Cal Titanero vê a sociedade brasileira como preconceituosa em grande parte, apesar de apontar leves melhoras: "Pelo menos evoluímos ao ponto de ser preconceituoso não ser mais algo bom de se mostrar, então, eles precisam se camuflar".
Ele lembra que o beijo entre Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg na novela fez este preconceituoso camuflado "se revelar". No olhar de Titanero, mais do que "um beijo gay", o beijo que Arandir dá em outro homem "é um gesto de amor".
Ao contrário do que aconteceu na televisão, o ator diz que no teatro a reação da plateia tem sido positiva à discussão proposta pelo espetáculo. "Um 'beijo gay' nada mais é que um beijo somente. E a peça O Beijo no Asfalto mostra exatamente isso: podia ser uma mulher, podia ser até uma criança ou um animal. Ele não se importou com que os outros iriam falar. O beijo de Arandir foi um ato de bondade, deturpado por outras pessoas como se fosse um crime. Não é. É um gesto de amor".
Serviço
O Beijo no Asfalto, versão do diretor Marco Antonio Braz
Quando: Sexta, 21h30, sábado, 21h, domingo, 19h. Até 27 de setembro
Onde: Teatro Augusta - rua Augusta, 943, Consolação, São Paulo
Quanto: R$ 40
Duração: 70 minutos
Classificação etária: 16 anos
Mais informações: 11 3151-4141
O Beijo no Asfalto, versão do diretor Jair Aguiar
Quando: Quarta e quinta, 21h. Até 15/10/2015
Onde: Espaço dos Parlapatões - praça Roosevelt, 158, centro, São Paulo
Quanto: R$ 40
Duração: 80 minutos
Classificação etária: 12 anos
Mais informações: 11 3258-4449
O Beijo no Asfalto, o Musical - versão do diretor João Fonseca - RJ
Quando: De 9 de outubro a 8 de novembro. Quinta a sábado, 19h, domingo, 18h.
Onde: Teatro Sesc Ginástico - av. Graça Aranha, 187, centro, Rio
Quanto: R$ 20
Classificação etária: Não informada
Mais informações: 21 2279-4027
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