Brasil precisa de estatísticas para melhorar segurança de trânsito
Se quiser adotar políticas eficientes para reduzir seu escandaloso número de mortes no trânsito, o Brasil precisa antes, urgentemente, começar a elaborar estatísticas confiáveis, para orientar estudos aprofundados sobre as causas dos acidentes. Só assim será possível endereçar a legislação e regulamentações no sentido correto, para reduzir as fatalidades. Essa é a principal conclusão do painel “Segurança Veicular – Inovações Estimuladas pela Demanda de Campo: Exemplos e Oportunidades para o Brasil”, realizado na terça-feira, 8, durante o 22º Congresso SAE, evento que reúne representantes da engenharia automotiva (de 7 a 9 de outubro no Expo Center Norte, em São Paulo).
“Ouvi que no Brasil existe um certo relaxamento em fazer e divulgar estatísticas corretas sobre os acidentes de trânsito. Assim fica difícil evoluir”, afirmou Robert Zöbel, supervisor do centro de pesquisas de acidentes do Grupo Volkswagen na Alemanha, um dos três especialistas estrangeiros presentes no painel. “Entender o que realmente aconteceu em uma colisão e montar um banco de dados com essas informações é fundamental para elaborar legislações para veículos, motoristas e infraestrutura viária, além de criar parâmetros para os fabricantes de veículos. Se as montadoras não souberem o que fazer para melhorar a segurança, não farão nada”, disse.
No Brasil as estatísticas sobre trânsito são pouco confiáveis, a começar pelo número exato de fatalidades causadas por acidente: fala-se de algum número entre 40 mil 60 mil mortes por ano e cerca de 500 mil feridos gravemente. “Com os números atuais, é possível dizer que se nada for feito e nos próximos anos a densidade da frota brasileira crescer dos atuais 323 veículos para cada mil habitantes para 625 por mil (número da Alemanha hoje), as mortes no trânsito quase dobrariam no País, avançando cerca de 90%”, calcula Zöbel.
Causa, efeito e solução
O especialista lembrou que na Alemanha, apesar do avanço da motorização do país, o número de mortes no trânsito vem caindo consistentemente nos últimos 40 anos: eram cerca de 13 mil fatalidades em 1953, que chegaram ao pico de 22 mil em 1973 e atualmente são menos de 4 mil. Esse resultado, segundo Zöbel, foi conquistado graças a estudos em profundidade sobre as causas dos acidentes, que orientaram os legisladores a adotar normas para evita-los ou reduzir suas consequências, como por exemplo o uso obrigatório de cinto de segurança.
Na Alemanha todo acidente de trânsito é levado a sério, com estudo minucioso sobre a causa de cada um deles. Dados são coletados por engenheiros no local da ocorrência, para saber, por exemplo, se houve vítimas, quem eram, onde estavam sentadas, em qual posição, se a estrutura do habitáculo foi corrompida, qual era a velocidade, se os airbags e cintos funcionaram corretamente. “Não basta ir lá e tirar algumas fotos, é preciso entender a colisão para recomendar soluções”, afirma Zöbel.
Ele conta que na China já começaram a ser montados os primeiros bancos de dados sobre acidentes de trânsito. Após alguns estudos, descobriu-se que as prioridades para evitar mortes são, entre outras medidas, adotar legislação mais severa para o uso de cintos de segurança, implementar programas de educação dos motoristas, melhorar a infraestrutura viária e aumentar a resistência dos habitáculos dos veículos. “Já no Brasil eu não saberia o que fazer”, resume.
“Há um longo caminho a seguir no Brasil. É preciso começar agora a criar um banco de dados confiável, o que deve levar de três a quatro anos”, aconselha Zöbel. Ele calcula que, pelo tamanho da população brasileira, a amostragem ideal seria de no mínimo 4 mil acidentes estudados (na Alemanha são 2 mil), incluindo uma ampla distribuição geográfica das ocorrências, para levar em conta os diversos tipos de comportamento dos motoristas em diferentes regiões do País.
“Nos Estados Unidos hoje sabemos a causa de 99% dos acidentes”, destacou Robert Lange, vice-presidente da consultoria Exponent, que também participou do painel. “Sem estatísticas confiáveis, não é possível identificar as soluções”, acrescentou. Por exemplo, pouco adiantaria criar uma lei para obrigar todos os carros a adotar sistemas de alerta ou assistência para mudança de faixa de rodagem quando se sabe que apenas 9% das colisões são causadas nessas condições. Mas faria sentido introduzir sistemas de radar e reconhecimento de sinais de trânsito para ajudar a reduzir 25% dos acidentes que acontecem em cruzamentos de ruas.
“Com as estatísticas, hoje sabemos que não é o aumento da frota em países desenvolvidos que aumentará consideravelmente os acidentes nos próximos anos, mas sim o maior número de carros em circulação nos países de renda média, que ainda têm legislação mais branda”, avalia Lange. Ele cita que nos Estados Unidos desde 1988 houve queda de 80% no número de mortes no trânsito para cada 100 mil habitantes.
Trauma mundial
Mark Stevenson, diretor do centro de pesquisas de acidentes de trânsito da Monash University, da Austrália, em sua apresentação no painel classificou as mortes no trânsito como um “trauma” mundial, que deve ser tratado como doença. Ele destacou que atualmente as colisões de veículos matam 1,2 milhão de pessoas por ano no mundo todo, além de deixar entre 20 milhões e 40 milhões de pessoas severamente feridas ou descapacitadas. E estes números podem crescer 87% até 2020 se nada for feito, considerando a entrada de milhões de novos carros e motoristas no trânsito mundial nos países em desenvolvimento, especialmente China e Índia. Desde 1980 os acidentes já aumentaram 70% na Ásia e 40% na América Latina. Até a metade deste século, a expectativa é de 50 milhões de mortos e 500 milhões de feridos.
Em maio de 2011, a Organização das Nações Unidas (ONU) reconheceu essa epidemia que mata 3,5 mil pessoas por dia, e lançou a iniciativa “Uma Década de Ação para a Segurança do Trânsito”, com o objetivo de incentivar os países a estudar seu trânsito e criar legislações e condições para estancar a sangria.
“Essa deve ser uma prioridade governamental”, ressaltou Stevenson, citando que na Austrália o governo colocou como meta a redução em 30% das mortes em acidentes de trânsito até a virada da década.
O especialista concorda que a disseminação de informações sobre acidentes e a segurança dos carros é fundamental para tornar o trânsito mais seguro. Ele sugere que devem ser compilados e cruzados os dados relatórios policiais sobre acidentes, prontuários hospitais e informações sobre indenizações de seguradoras, para possibilitar a elaboração de estudos aprofundados sobre o tema. Na Austrália o consumidor já tem acesso a diversas informações sobre seus veículos, como um anuário sobre os níveis de segurança de carros usados, ou um site que informa as notas obtidas em testes de impacto.
A conclusão dos especialistas é que o Brasil deve começar já a cuidar melhor de seu trânsito, ou gerações continuação a perder suas vidas nas ruas e estradas do País, em escala crescente.
“Ouvi que no Brasil existe um certo relaxamento em fazer e divulgar estatísticas corretas sobre os acidentes de trânsito. Assim fica difícil evoluir”, afirmou Robert Zöbel, supervisor do centro de pesquisas de acidentes do Grupo Volkswagen na Alemanha, um dos três especialistas estrangeiros presentes no painel. “Entender o que realmente aconteceu em uma colisão e montar um banco de dados com essas informações é fundamental para elaborar legislações para veículos, motoristas e infraestrutura viária, além de criar parâmetros para os fabricantes de veículos. Se as montadoras não souberem o que fazer para melhorar a segurança, não farão nada”, disse.
No Brasil as estatísticas sobre trânsito são pouco confiáveis, a começar pelo número exato de fatalidades causadas por acidente: fala-se de algum número entre 40 mil 60 mil mortes por ano e cerca de 500 mil feridos gravemente. “Com os números atuais, é possível dizer que se nada for feito e nos próximos anos a densidade da frota brasileira crescer dos atuais 323 veículos para cada mil habitantes para 625 por mil (número da Alemanha hoje), as mortes no trânsito quase dobrariam no País, avançando cerca de 90%”, calcula Zöbel.
Causa, efeito e solução
O especialista lembrou que na Alemanha, apesar do avanço da motorização do país, o número de mortes no trânsito vem caindo consistentemente nos últimos 40 anos: eram cerca de 13 mil fatalidades em 1953, que chegaram ao pico de 22 mil em 1973 e atualmente são menos de 4 mil. Esse resultado, segundo Zöbel, foi conquistado graças a estudos em profundidade sobre as causas dos acidentes, que orientaram os legisladores a adotar normas para evita-los ou reduzir suas consequências, como por exemplo o uso obrigatório de cinto de segurança.
Na Alemanha todo acidente de trânsito é levado a sério, com estudo minucioso sobre a causa de cada um deles. Dados são coletados por engenheiros no local da ocorrência, para saber, por exemplo, se houve vítimas, quem eram, onde estavam sentadas, em qual posição, se a estrutura do habitáculo foi corrompida, qual era a velocidade, se os airbags e cintos funcionaram corretamente. “Não basta ir lá e tirar algumas fotos, é preciso entender a colisão para recomendar soluções”, afirma Zöbel.
Ele conta que na China já começaram a ser montados os primeiros bancos de dados sobre acidentes de trânsito. Após alguns estudos, descobriu-se que as prioridades para evitar mortes são, entre outras medidas, adotar legislação mais severa para o uso de cintos de segurança, implementar programas de educação dos motoristas, melhorar a infraestrutura viária e aumentar a resistência dos habitáculos dos veículos. “Já no Brasil eu não saberia o que fazer”, resume.
“Há um longo caminho a seguir no Brasil. É preciso começar agora a criar um banco de dados confiável, o que deve levar de três a quatro anos”, aconselha Zöbel. Ele calcula que, pelo tamanho da população brasileira, a amostragem ideal seria de no mínimo 4 mil acidentes estudados (na Alemanha são 2 mil), incluindo uma ampla distribuição geográfica das ocorrências, para levar em conta os diversos tipos de comportamento dos motoristas em diferentes regiões do País.
“Nos Estados Unidos hoje sabemos a causa de 99% dos acidentes”, destacou Robert Lange, vice-presidente da consultoria Exponent, que também participou do painel. “Sem estatísticas confiáveis, não é possível identificar as soluções”, acrescentou. Por exemplo, pouco adiantaria criar uma lei para obrigar todos os carros a adotar sistemas de alerta ou assistência para mudança de faixa de rodagem quando se sabe que apenas 9% das colisões são causadas nessas condições. Mas faria sentido introduzir sistemas de radar e reconhecimento de sinais de trânsito para ajudar a reduzir 25% dos acidentes que acontecem em cruzamentos de ruas.
“Com as estatísticas, hoje sabemos que não é o aumento da frota em países desenvolvidos que aumentará consideravelmente os acidentes nos próximos anos, mas sim o maior número de carros em circulação nos países de renda média, que ainda têm legislação mais branda”, avalia Lange. Ele cita que nos Estados Unidos desde 1988 houve queda de 80% no número de mortes no trânsito para cada 100 mil habitantes.
Trauma mundial
Mark Stevenson, diretor do centro de pesquisas de acidentes de trânsito da Monash University, da Austrália, em sua apresentação no painel classificou as mortes no trânsito como um “trauma” mundial, que deve ser tratado como doença. Ele destacou que atualmente as colisões de veículos matam 1,2 milhão de pessoas por ano no mundo todo, além de deixar entre 20 milhões e 40 milhões de pessoas severamente feridas ou descapacitadas. E estes números podem crescer 87% até 2020 se nada for feito, considerando a entrada de milhões de novos carros e motoristas no trânsito mundial nos países em desenvolvimento, especialmente China e Índia. Desde 1980 os acidentes já aumentaram 70% na Ásia e 40% na América Latina. Até a metade deste século, a expectativa é de 50 milhões de mortos e 500 milhões de feridos.
Em maio de 2011, a Organização das Nações Unidas (ONU) reconheceu essa epidemia que mata 3,5 mil pessoas por dia, e lançou a iniciativa “Uma Década de Ação para a Segurança do Trânsito”, com o objetivo de incentivar os países a estudar seu trânsito e criar legislações e condições para estancar a sangria.
“Essa deve ser uma prioridade governamental”, ressaltou Stevenson, citando que na Austrália o governo colocou como meta a redução em 30% das mortes em acidentes de trânsito até a virada da década.
O especialista concorda que a disseminação de informações sobre acidentes e a segurança dos carros é fundamental para tornar o trânsito mais seguro. Ele sugere que devem ser compilados e cruzados os dados relatórios policiais sobre acidentes, prontuários hospitais e informações sobre indenizações de seguradoras, para possibilitar a elaboração de estudos aprofundados sobre o tema. Na Austrália o consumidor já tem acesso a diversas informações sobre seus veículos, como um anuário sobre os níveis de segurança de carros usados, ou um site que informa as notas obtidas em testes de impacto.
A conclusão dos especialistas é que o Brasil deve começar já a cuidar melhor de seu trânsito, ou gerações continuação a perder suas vidas nas ruas e estradas do País, em escala crescente.
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