Fatores externos podem ter provocado explosão em Beirute; ao menos 70 pessoas morreram

Por G1 04/08/2020 19h07 - Atualizado em 04/08/2020 22h10
Por G1 04/08/2020 19h07 Atualizado em 04/08/2020 22h10
Fatores externos podem ter provocado explosão em Beirute; ao menos 70 pessoas morreram
Foto: Mohamed Azakir/Reuters
As causas da imensa explosão que atingiu Beirute, no Líbano, nesta terça-feira (4), ainda são desconhecidas, mas o seu tamanho e a poderosa onda de choque que ela lançou por quilômetros chamou a atenção de especialistas ouvidos pelo G1.

Imagens divulgadas nas redes sociais mostram uma nuvem de fumaça em um galpão próximo ao porto, sendo sucedida de pequenos estopins e "pipocos", com flashes de luzes e estrondos localizados.

Em seguida, há uma grande detonação, com a formação de um "cogumelo gigante" de calor, que provocou a destruição de imóveis próximos ao local. Os vídeos mostram um efeito "varredura", com uma devastação ao longo da área atingida pela explosão, com a destruição de imóveis em larga escala e por quilômetros de distância. Pessoas foram jogadas ao mar e carros virados de ponta cabeça.

Militares especialistas em explosivos e produtos químicos, além de historiadores que acompanham a situação no Oriente Médio, ouvidos pelo G1, notam que, se a grande explosão vista na região portuária de Beirute, no Líbano, nesta terça-feira (4), fosse deflagrada por produtos químicos, haveria imediatamente um processo de retirada dos moradores da área, devido ao risco de contaminação e maiores complicações.

Segundo um instrutor em armamento da Polícia Militar de São Paulo, que já realizou treinamentos internacionais em explosivos, nem a detonação de uma tonelada de dinamite provocaria efeito semelhante ao visto no Líbano.

Ao ver as imagens da detonação, o major Marcos Palumbo, porta-voz do Corpo de Bombeiros de São Paulo, assinalou que apenas um fator externo provocaria uma detonação instantânea de todo o local, como mostra o vídeo, causando uma grande "onda de choque".

"A enorme onda de choque e de calor causada pela explosão em toda a área, de forma instantânea em toda a extensão do terreno, é algo nítido ao ver as imagens. Foi algo muito forte que tinha ali ou em enorme quantidade. É como se tivesse sido deflagrado por algo externo, como uma bomba, em um local com grande quantidade de explosivos. Se fosse um incêndio, que começa onde há contato com o oxigênio, ele não seria de forma repentina como o visto", avalia Palumbo.

"A onda de choque positiva é impressionante. O fator de sobrepressão deve ter causado lesões pulmonares em muitas pessoas", disse outro militar especialista que atua na área de munições e equipamentos militares.

Dezenas de mortos e mais de 2 mil feridos já foram confirmados pelas autoridades locais. Parte foi levada a hospitais, mas ainda há muita gente presa em escombros dentro de suas casas. Barcos estão resgatando pessoas que foram jogadas ao mar.

"O fato não é o que explodiu, mas a quantidade, a magnitude da explosão", disse um militar das Forças Armadas especialista em explosivos, sob a condição de anonimato.

Para o especialista em Oriente Médio Gunther Rudzit, a retirada da população e o isolamento do local seria a consequência lógica se a explosão tivesse sido provocada por um acidente.

Por isso, Rudzit, que é coordenador do Núcleo de Estudos e Negócios em Oriente Médio da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), entende que, por enquanto, não se poderia excluir a possibilidade de a detonação ter sido derivada de alguma forma de ataque aéreo pontual, por exemplo, a um depósito de armas do Hezbollah. Até o momento, não há informações oficiais nesse sentido.
"Até onde eu saiba, produtos químicos não causam uma explosão como aquela. E, se fosse algo perigoso, seria necessário retirar a população da região, devido ao risco de maiores explosões posteriores ou de contaminação decorrente de algo, como radiação ou químicos", diz o professor.

"A primeira coisa que se faz quando há algum acidente químico é retirar as pessoas e as pessoas continuam na região", explica Rudzit. "Foi isso que ocorreu em Santos, no litoral paulista, em 2015, quando tanques de combustíveis pegaram fogo. Os bombeiros e a Defesa Civil isolaram toda a área na hora, devido aos riscos", relembra o professor. No caso de Santos, as chamas duraram 9 dias.
O chefe de segurança interna do Líbano, Abbas Ibrahim, disse que a explosão, na região portuária do Líbano, aconteceu numa seção que armazena materiais que podem ser altamente explosivos, e não explosivos em si.

Em uma entrevista televisionada, ele não quis especular sobre a causa da explosão.

Instabilidade

O Líbano vive um período de instabilidade política. No fim do ano passado, o primeiro-ministro Saad Al-Hariri renunciou. O país viveu um período com um vácuo de poder, até que Hassan Diab assumiu e anunciou a formação de um novo governo em janeiro. O gabinete foi anunciado em meio a uma série de protestos que derrubaram.

Nesta sexta-feira (7), um tribunal apoiado pela ONU deve divulgar seu veredito no julgamento contra quatro homens acusados de terem participado do assassinato do ex-primeiro-ministro libanês Rafic Hariri em 2005, uma etapa fundamental em um longo processo no qual os suspeitos continuam em liberdade.