Alunos voltam à escola de Suzano pela primeira vez após massacre

Por Redação com NotíciasaoMinuto 19/03/2019 15h03 - Atualizado em 19/03/2019 19h07
Por Redação com NotíciasaoMinuto 19/03/2019 15h03 Atualizado em 19/03/2019 19h07
Alunos voltam à escola de Suzano pela primeira vez após massacre
As mães, acompanhadas dos filhos, ganharam flores distribuídas por fiéis de igrejas evangélicas - Foto: Amanda Perobelli e Ueslei Marcelino/Reuters
Na entrada, cartazes lembravam: "O amor vence a tristeza". Entre os adolescentes, abraços e choros. Assim, a Escola Estadual Professor Raul Brasil abriu as portas para alunos e pais na manhã desta terça-feira (19).

É a primeira vez que os estudantes voltam ao colégio de Suzano (Grande SP) após o massacre que deixou 8 mortos e 11 feridos há seis dias.

Os portões do colégio foram abertos pontualmente às 10h. As mães, acompanhadas dos filhos, ganharam flores distribuídas por fiéis de igrejas evangélicas.

A direção da Raul Brasil organizou um grande café da manhã, servido antes do início dos trabalhos de aconselhamento psicológico.

Estudantes de escolas da cidade também compareceram para prestar homenagens. Vestidos de branco, eles fixaram no muro do colégio um cartaz com as fotos de todas as vítimas. Rezaram um Pai-Nosso e pediram paz no Brasil.

Para Solange Santos de Oliveira, 47, o dia é especial. O filho dela, Robert, 16, sobreviveu ao massacre e faz aniversário nesta quinta. "Ele agora tem duas datas para comemorar. Meu filho renasceu, mas está muito abalado. Viemos buscar ajuda."

Cauê Luiz, 15, chorava muito à espera da abertura dos portões. Sobrevivente da tragédia, ele disse que retornou à escola para "dar e buscar forças." "O clima vai ficar pesado daqui pra frente. Vamos precisar de muita ajuda para continuar aqui", afirmou.

Mãe de uma estudante da Raul Brasil, Josilene Maciel de Souza, 41, reservou a terça para distribuir fitinhas nas cores branca e verde aos pais e alunos no entorno do colégio. "Que a paz e a esperança vençam o ódio", dizia ela, a cada fitinha fixada no braço dos presentes.

A merendeira Silmara, que salvou 50 alunos na cozinha no dia do massacre, chegou à escola motivada a reconstruir "o que foi destruído." "Ainda estou à base de calmante, mas sei que isso vai passar logo", afirmou.

A escola também pediu a presença de um padre para benzer os locais onde alunos e funcionários foram encontrados mortos. "É preciso mostrar a essa comunidade que não se pode desistir. É por isso que eu estou aqui", disse o pároco Cláudio Taciano, 43.

A fachada da escola foi pintada nas cores azul e amarelo para receber os alunos.

As salas de aula também ganharam nova pintura, um esforço da direção para mostrar à comunidade que o colégio quer voltar aos trilhos.

Não haverá aulas pelos próximos dias. As salas foram transformadas em divãs, onde serão realizados os trabalhos de aconselhamento psicológico coordenado por psicólogos da USP (Universidade de São Paulo) e do governo de São Paulo.

No pátio também serão realizadas rodas de conversa. A ideia da direção da escola é que os alunos consigam usar o momento para lidar de frente com o trauma que passaram.

Bruno Fedri, psicólogo destacado pela secretaria de Justiça da gestão Doria (PSDB), disse que o trabalho com os estudantes da Raul Brasil será delicado "porque envolve crianças e adolescentes que passaram por um grande evento traumático".

"Vamos mostrar a eles que a brutalidade da violência não pode se sobrepor à biografia das vítimas."

Os psicólogos ficarão na escola ao longo dessa semana. Depois disso, vão manter presença uma vez por mês, mas, a depender da necessidade, poderão comparecer ao colégio para atender casos específicos.

REENCONTRO

O primeiro dia de funcionamento da Raul Brasil também proporcionou um reencontro.

A estudante Raphaelly Cálix Sarmento reviu Juliana Romera, 40, a vizinha do colégio que abrigou sete sobreviventes do massacre, entre elas, a jovem de 16 anos.

Muito emocionada, a estudante só agradeceu. "Eu me senti muito segura na casa dela", disse.

Raphaelly diz que a sua rotina ainda não voltou ao normal. "Não durmo direito e ainda escuto as vozes do Guilherme [um dos atiradores]. É horrível", afirmou.

Ela buscou abrigo na casa de Juliana quando recebeu a ligação de uma amiga que também havia escapado dos tiros. "Ela disse que tinha uma mulher que estava ajudando muito quem estava na rua sem direção. Daí eu fui para a casa da Juliana."

A jovem disse que não pretende sair da Raul Brasil por causa do massacre. "Já estou há sete anos aqui e esse é o meu último ano. A hora não é de abandonar, mas de ficar aqui para um dar força um ao outro."

TERCEIRO SUSPEITO

Policiais apreenderam na manhã desta terça-feira (19) o adolescente suspeito de ser o terceiro envolvido no massacre em Suzano que matou cinco alunos e duas funcionárias na Escola Estadual Raul Brasil e um empresário.

O jovem de 17 anos foi apreendido em casa e levado ao IML de Suzano. Por volta das 8h40, ao lado da mãe, seguiu para o fórum da cidade, onde passará por audiência de apresentação.

A juíza Erica Marcelina Cruz, da Vara da Infância e da Juventude, determinou a internação provisória por 45 dias numa unidade da Fundação Casa, após pedido do promotor de Justiça Rafael do Val, que atua no caso.

Durante a investigação policial foram analisados os celulares dele e dos dois atiradores. Mensagens trocadas entre os três mostraram à Justiça indícios concretos da participação do jovem na organização do crime. Entre os 11 celulares apreendidos no dia do ataque, um pertence ao adolescente suspeito.