Susto: doença misteriosa afeta mais de 100 pessoas em Salvador

Por Com informações do Correio24horas 23/10/2018 10h10 - Atualizado em 23/10/2018 13h01
Por Com informações do Correio24horas 23/10/2018 10h10 Atualizado em 23/10/2018 13h01
Susto: doença misteriosa afeta mais de 100 pessoas em Salvador
Moradores mostram marcas na pele que causam coceira e ardencia. - Foto: Reprodução Correio24horas
Os sintomas são bem aparentes: manchas vermelhas pelo corpo, principalmente braços e pernas, e muita coceira que duram entre cinco e seis dias. Isso é o que já sentiram as mais de 100 pessoas de Salvador que foram diagnosticadas com uma doença misteriosa que tem assustados os baianos.

Inicialmente a doença foi notada após um grupo, com mais de 30 moradores de um condomínio particular com 18 torres e 1.622 apartamentos. O local é cercado por uma área verde de 305 mil m², que fica ao lado do Parque Metropolitano de Pituaçu, um dos principais pontos da cidade com remanescentes de Mata Atlântica.

A coordenadora do Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde, Cristiane Cardoso, suspeita que o surto seja causado pela picada de algum inseto que ainda não foi identificado.

“São características de picadas de insetos. Nós já descartamos a hipótese de arbovírus, a exemplo de zika e chikungunya”, explicou.

O Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde investiga o caso junto a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), de equipes da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), além do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ).

Ainda segundo Cristiane, equipes dos órgãos de saúde estão frequentemente no condomínio e já conversaram com os moradores.

“Eles relatam que sentem um ardor rápido, o que chamam de pinicada, e depois as manchas aparecem e a coceira tem início. Mas, ninguém consegue ver o inseto, o que nos leva a pensar que seja alguma coisa muito pequena”, afirmou.

Segundo ela, as pessoas atingidas estão utilizando apenas pomadas, cremes e hidratantes para aliviar a coceira.

Armadilhas
O CCZ e a Fiocruz já instalaram armadilhas no entorno do condomínio para tentar identificar o inseto ou outra coisa que possa estar causando os sintomas nos moradores. “É possível que o número de casos aumente. Estamos em 32, por enquanto, e sabemos que o primeiro caso, que não entra nessa conta atual, aconteceu em agosto”, contou Cristiane.

A Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab), afirmou que está cuidando de 6 dos 32 casos já identificados no condomínio e que, além deles, há sinal de outras pessoas com os mesmos sintomas em bairros distintos de Salvador. “Foram coletadas amostras de pacientes e já descartamos a hipótese de arbovírus”, escreveu em nota a pasta. Além disso, a secretaria declarou que outro relatório vai ser divulgado assim que as investigações estiverem mais avançadas.

Até agora, já foram registrados casos em pessoas com idades entre 4 e 64 anos, moradoras do condomínio no bairro de Patamares, segundo o Cievs.

“Estamos trabalhando em equipes com infectologista, dermatologista, biólogo, epidemiologistas e sanitaristas para tentar identificar as causas desses sintomas. Mas, por enquanto, pedimos que os moradores evitem passar muito tempo em áreas externas com roupas que deixem pernas e braços expostos”, orientou Cristiane.

A coordenadora do Cievs também ressaltou que está descartada a possibilidade de se tratar de uma doença contagiosa, transmitida de pessoa a pessoa. “A princípio, tudo surgiu como rumores nas redes sociais e nós fomos investigar, porque estavam falando em escabiose. Essa hipótese já foi totalmente descartada. Ou seja, a gente já sabe o que não é e estamos investigando para saber o que é”, concluiu.

O que confirma essa hipótese do não contágio é, justamente, o fato de os sintomas terem se manifestado em pessoas isoladas de uma mesma família. Uma moradora do condomínio, que preferiu não se identificar, contou ao CORREIO que conhece quem sentiu as coceiras, mas na família dela, ninguém manifestou os sintomas, apesar de todos frequentarem as áreas comuns ao lado de outros condôminos.

Boatos
Assim que os boatos nas redes sociais começaram, há duas semanas, moradores do condomínio Le Parc, na Avenida Paralela, que fica próximo ao conjunto residencial onde os sintomas foram descobertos, se desesperaram.

Por meio de um comunicado enviado a todos os condôminos nesta quarta-feira (17), o Le Parc esclareceu a situação e chamou de ‘fake news’ o boato sobre os casos da doença misteriosa entre os moradores da unidade.

De acordo com o Le Parc, segundo o CCZ, o surto da doença em outro condomínio acontece em razão da “aplicação de produtos químicos nas matas ao entorno”. Porém, essa informação não foi confirmada pelo órgão.

Ainda segundo o Le Parc, uma equipe do CCZ esteve no condomínio nesta quarta e validou o controle de pragas, além de ter se certificado de que não existem casos de dermatites entre os moradores.

Questionário
Um questionário elaboradorado por infectologistas e epidemiologistas vai ajudar a desvendar a causa da doença misteriosa. Ao menos, essa é a expectativa da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), que também analisa exames de sangue e urina coletados de pessoas infectadas, além da perícia de insetos e ácaros colhidos no condomínio Greenvile, no bairro de Patamares - onde os casos estão concentrados desde agosto.

A pesquisa deverá cruzar informações acerca do estilo de vida dos pacientes e, assim, tentar compreender a origem da doença, que tem como sintomas manchas vermelhas pelo corpo, especialmente braços e pernas, além de coceira.

Conforme o infectologista e professor da Faculdade de Tecnologia e Ciência (FTC) de Salvador, Antônio Bandeira, que integra o grupo responsável pela investigação da doença, o questionário vai desvendar o mistério.

"Sem dúvida [o questionário] vai ser essencial para chegarmos a uma conclusão. Nós trabalhamos com três frentes, são elas a análise do material colhido no paciente, o estudo dos insetos [lepidópteros] e acaros [gênero pyemotes], além do questionário. Há a suspeita de que possa ser algo ambiental, já que a manifestação dos sintomas tem a ausência de febre e dor de garganta - o que é comum quando se trata de arboviroses", explicou o professor.

Sem pânico
Embora ainda não estejam claras origem e consequência da doença misteriosa, o infectologista Antônio Bandeira afirmou que não há motivo para que a população de Salvador e Lauro de Freitas entre em pânico. Segundo ele, não existe registro de pessoas internadas em decorrência dos sintomas, ou qualquer caso de morte relacionado aos 79 registros feitos pela SMS.

"São sintomas simples. Pode até assustar em alguns casos, no sentido visual, mas não temos nenhum óbito associado. É algo que vai passar naturalmente em algum momento, então não há mesmo o que temer. A medicação também é feita à base de anti-inflamatórios", garantiu o professor.

Bandeira acrescentou, no entanto, que as pessoas, especialmente os moradores do Greenville - que tem 18 torres e reúne 1.622 apartamentos - devem usar repelentes diariamente. "E é imprescindível que seja um repelente à base do DEET, uma substância que também tem efeito contra ácaros, já que ainda não temos o causador", salientou.

O condomínio que concentra os casos possui uma área verde de 305 mil m² dentro da própria estrutura, e está localizado ao lado do Parque Metropolitano de Pituaçu, um dos principais pontos da cidade com remanescentes de Mata Atlântica.