Um dos conflitos políticos mais sensíveis do governo Lula está longe dos holofotes do grande público, mas tem sido chamado de “Faixa de Gaza” nos bastidores do Palácio do Planalto, segundo a colunista do Jornal O Globo, Malu Gaspar. Trata-se da batalha travada entre os grupos de Arthur Lira (PP-AL) e Renan Calheiros (MDB-AL) pela influência sobre uma das duas vagas abertas no Superior Tribunal de Justiça (STJ) — e que envolve diretamente a procuradora alagoana Marluce Caldas.

Marluce Caldas é tia do prefeito de Maceió, JHC, um dos principais aliados de Arthur Lira e atualmente filiado ao PL. Mesmo sendo adversário de Lula no campo federal, Lira tenta emplacar sua influência com o apoio a Marluce.

Segundo a colunista, o grupo liderado por Renan Calheiros se opõe à indicação da procuradora e prefere o nome de Sammy Barbosa, procurador do Acre. A disputa entre os dois campos transformou a escolha para o STJ em uma verdadeira guerra fria institucional.

Internamente, ministros e assessores do Palácio do Planalto já se referem ao conflito como “a Faixa de Gaza do Brasil”, em alusão ao nível de tensão e à complexidade das negociações.

Desde outubro de 2023, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem em mãos as listas tríplices para as duas vagas no STJ — uma reservada à Justiça Federal e outra ao Ministério Público. Mas o impasse envolvendo Maria Marluce, Lira e Renan paralisou a decisão por meses.

Apesar de Lula já ter sinalizado apoio à saída de JHC do PL, visando uma aproximação mais formal com o PSD de Gilberto Kassab (o que facilitaria a indicação de Marluce), o prefeito ainda não oficializou a mudança.

Além do cabo de guerra entre Lira e Renan Calheiros, há ainda uma pressão crescente para que Lula indique ao menos uma mulher ao STJ. A primeira-dama, Janja da Silva, tem defendido maior diversidade no Judiciário, especialmente após Lula criticar a “supremacia branca” nos tribunais superiores.

Entre os nomes femininos aptos, Marluce é a única mulher da lista do Ministério Público. A decisão, portanto, também carrega peso simbólico e político.