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Violência psicológica é pior que física? Psicóloga arapiraquense explica

Por Lohuama Alves 06/03/2020 16h04
Por Lohuama Alves 06/03/2020 16h04
Violência psicológica é pior que física? Psicóloga arapiraquense explica
Foto: Reprodução
Diferente do que se imagina, não é preciso ser agredida fisicamente para estar em uma relação violenta. Algumas palavras e atitudes podem ferir a autoestima de uma mulher ou de um homem tanto quanto. E isso tem nome: violência psicológica.

Essa agressão se define toda a ação ou omissão que tenha por objetivo causar danos à autoestima, à identidade e ao bom desenvolvimento psicológico de uma pessoa. Tais atitudes e comportamentos podem vestir a roupagem de insultos constantes, xingamentos, desvalorização, humilhações públicas, chantagem, ridicularização, ameaças, manipulação afetiva, críticas pelo desempenho sexual, omissão de carinho.

O “conto de fadas” que muitos querem viver funciona como correntes e mantem presos aos abusos, muitas vezes sob a justificativa do “O amor é sofredor (...) tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta”. Sabemos que não é bem assim não é mesmo?

Esse assunto vem sendo um tema muito discutido nas redes sociais, principalmente após algumas cenas de demonstração de violência psicológica exibidas no reality show global Big Brother Brasil e, preocupada com o assunto, procurei a psicóloga Thiala Melo para debater o fato para vocês e tirarmos algumas dúvidas.

Veja a entrevista na íntegra:

Quais atitudes caracterizam o abuso emocional? Como identificar?


Quando se fala em abuso, ou relacionamentos abusivos, devemos considerar situações de extrema violência, como também situações discretas que são caracterizadas como tal. O abuso emocional é muito mais confuso para as vítimas, já que geralmente é expresso em comportamentos que podem inicialmente ser percebidos como “cuidados”.

Violência psicológica é pior que física? Quando ela acontece?

Não existe um tipo de violência pior que outra. Toda violência pode trazer prejuízos irreversíveis para a vítima. Ela acontece em uma relação desigual de poder, em que os atuantes exercem autoridade sobre as vítimas, sujeitando-as aos maus tratos psicológicos de forma continuada e intencional. A violência psicológica causa severos danos à autoestima da pessoa por meio da humilhação, ridicularização, insultos, ameaças, privação de liberdade e xingamentos. Geralmente acontecem em ambientes de trabalho, ambientes domésticos e relacionamentos. A vítima pode se sentir incapaz de ter sucesso na vida, pode apresentar incertezas sobre sua capacidade intelectual, perda da vontade de viver, sentir culpa pelos conflitos da relação e também se sentir inferior.

Como ajudar alguém que está passando por isso?

A conduta mais indicada é acolher a pessoa, sem realizar nenhum tipo de julgamento ou perguntas inapropriadas, como: “Por que você ainda está nesse relacionamento?” ou ainda “por que você se submete a essa situação?”. A vítima que sofre violência psicológica sente-se por vezes, impotente e sem repertórios de comportamento para enfrentar tal situação.

Quem sofre esse tipo de violência pode ter problema de saúde? Depressão?

Sim. Pode haver o aparecimento de transtornos mentais em decorrência de situações de violência psicológica. Uma das manifestações que mais acometem mulheres em situação de violência, por exemplo, além da Depressão, é o Estresse Pós-Traumático, condição marcada pela dificuldade nos componentes de autorregulação emocional após um estímulo ou situação aversiva o qual a vítima foi submetida. Os sintomas variam com o aparecimento de tremores, sudorese, dificuldades para respirar, e em alguns casos, a vítima deixa de realizar suas obrigações e atividades cotidianas, em função do episódio traumático. Vale ressaltar que o aparecimento de transtornos mentais se dá a partir de um histórico familiar que favoreça esse aspecto, além do ambiente em que a pessoa está inserida.

O agressor pode parecer um príncipe ou princesa?

Sim. O agressor ou agressora geralmente apresenta repertórios de comportamentos favoráveis, os quais a vítima identifica como reforçador para o relacionamento em questão. Entretanto, com o passar do tempo, essas manifestações vão dando lugar a condutas excludentes e inadequadas, resultando em uma postura incapacitante, o qual torna a vítima suscetível a tolerar agressões.

Como reconhecer o perigo e superá-lo?

Em muitas situações, a pessoa não consegue identificar claramente uma relação constituída de forma abusiva, desta forma, as sequelas são muito mais graves do ponto de vista emocional e social. Com relação a superação, a vítima deve buscar no autocuidado, uma alternativa para sentir-se útil e capaz.

Karla Thiala Melo silva
CRP 15/4165
Psicóloga Clínica Comportamental e secretária da Comissão Gestora da subsede do Conselho Regional de Psicologia de Alagoas.



Portanto, se, em vez de boas memórias, o “amor” deixa marcas físicas e, principalmente, psicológicas, o romance e as ilusões devem deixar de ser o mote da relação e a Justiça deve ser acionada – para o próprio bem da mulher. Qualquer denúncia disque o 180 ou procure a delegacia mais próxima.

Vamos nos amar mais, ser livres e felizes, né pessoal? Beijos e até a próxima.

 

Lôh Alves

Uma alagoana cheia de virtudes e vicissitudes; comunicadora e amante das letras. Acredita que jornalismo é mais que vocação, é paixão. Desde 2014 desempenha várias funções no ambiente do ciberespaço para se consolidar e assumir novas tarefas na comunicação.  

É contando e ouvindo histórias que as memórias culturais e afetivas são resgatadas, fundamentais para descobrir quem somos e como lidamos com os outros. Neste blog, vocês poderão ter essa experiência.

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