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Por que somos imprudentes?

23/05/2017 18h06
23/05/2017 18h06
Por que somos imprudentes?

Em algum momento de nossas vidas ouvimos ou emitimos algumas frases como: “Eu fiz sem pensar” ou “simplesmente aconteceu e eu nem percebi”, tais situações podem acontecer quando nos colocamos em perigo, em desvantagem ou quando somos imprudentes em nossas ações, como por exemplo: “eu só bebi duas latinhas de cerveja, eu posso dirigir”, “eu nunca fiz esta trilha, mas não tem problema em ir sozinho/a”, “nada vai acontecer, é fácil”.

Nessas situações, os sujeitos em questão se colocaram em risco e minimizaram o perigo, com uma falsa segurança de que nada iria acontecer, mas se acontecesse um acidente de trânsito no primeiro caso e um acidente em um barranco por não conhecer o caminho no segundo, em ambos os casos os sujeitos poderiam expor que fizeram sem pensar, ou fizeram “no calor do momento”.

Para entender melhor  o que são esses comportamentos imprudentes, precisamos compreender  que o comportamento gera consequências no sujeito e no seu meio, ou seja, diante disto Skinner (2003) nos traz que os comportamentos dos indivíduos estão sob controle de variáveis ambientais externas. No caso dos comportamentos imprudentes que são apresentados com alta frequência, as variáveis ambientais externas, como no exemplo acima, poderia ter uma pista com um alto fluxo de veículos, podendo aumentar o risco de dirigir embriagado, entretanto se não tivesse, o perigo seria minimizado.

 Skinner (1970) considera quaisquer condições que tenham efeito sobre o comportamento, uma vez que o comportamento não pode ser compreendido separado das características do contexto onde ocorre, ou seja, dirigir embriagado, com um alto fluxo de veículos, não me trouxe prejuízos, então continuarei a dirigir embriagado, contudo se o mesmo sujeito se envolvesse em um acidente automobilístico grave, a probabilidade do mesmo não dirigir embriagado seria maior.

O que significa é que, se caso um sujeito apresente repetidas vezes um comportamento imprudente e deste não tenha ocorrido nenhuma consequência aversiva, a probabilidade deste continuar apresentando o mesmo comportamento é alta, ou seja, fiz algo imprudente e não aconteceu nada, então a minha “teoria” de que nada ruim irá acontecer se confirma, e estes comportamentos são fortalecidos, quando em nosso ciclo de relações pessoais próximas, não haja experiências de outras pessoas sofrerem danos por apresentar comportamentos semelhantes. Então o sujeito não tem repertório de consequências aversivas para estes comportamentos imprudentes.

Mas por qual motivo, nós continuamos a apresentar comportamentos ditos inconsequentes ou imprudentes? Tendo em vista que o prejuízo poderia ser iminente, seria plausível que evitássemos apresentá-los, agora prestem bem atenção nesta palavra, poderia, porém não aconteceu e se não aconteceu, eu continuarei com aquela ideia de que não aconteceu e nem irá acontecer.

Você pode está aí sentado, lendo esse texto e pensando: Ah! Mas eu não faço nada imprudente. Tem certeza? As pequenas situações são as mais difíceis de perceber, pois acontecem cotidianamente e nós em dados momentos, acreditamos piamente que podemos fazê-lo sem que nos cause danos. Um exemplo é quando precisamos poupar tempo para chegar a algum lugar e o caminho mais curto é pouco iluminado, com baixa circulação de pessoas que nos põe em situação de risco para um possível assalto, mas que continuamos por fazê-lo repetidamente, quando não sofremos nenhum prejuízo.

Depois desta breve explicação, alguns que estão lendo este texto, podem estar pensando. – Olha aí, bem que eu sabia desde o principio, eu realmente fiz sem pensar, porque eu se eu não tinha uma experiência que fosse ruim, eu não poderia evitar me comportar de forma imprudente. Então é nesta hora, meu caro leitor, que eu vos digo que não, se vivemos em uma comunidade que nos ensina regras, e nos dá exemplo de que se uma pessoa se comportar de dada maneira ela poderá ter consequências aversivas, eu tenho acesso a informação, porém o fato de não trazer danos imediatos, é o que mantém esse comportamento,  não o simples fato de não ter repertório ou experiências. Um exemplo são as continuas campanhas publicitárias e ações do ministério da Saúde para o uso do preservativo, pois este evitaria uma gravidez indesejada, ou doenças sexualmente transmissíveis (DST), ou seja, a informação foi oferecida.

Contudo esses aversivos estão aí e às vezes eles nos alcançam. Neste momento já não dá, como se diz em um ditado popular: “não dá, para chorar sob o leite derramado”, pois aconteceu e teremos de lidar com as consequências. Seja no fato de não usar preservativo, pois nada irá acontecer, porque devido a uma força misteriosa eu sei que nada irá acontecer, mas que todos nós sabemos que poderá acontecer sim, como uma gestação indesejada ou DST.

O que acontece é que o prazer imediato é muito mais reforçador do que o desgaste de pensar no ônus. Desta forma, se o sujeito não tem repertório das consequências do não uso do preservativo de forma prática, ou seja, não houve nenhuma gestação indesejada, ou não sofreu com nenhuma DST, é muito provável que ele mantenha aquela falsa ideia de segurança de que nada irá acontecer.

Tendo em vista todo o exposto percebemos que um ambiente pobre de modelos e discriminação pode levar o sujeito a se comportar de forma imprudente em diversos ambientes e situações. Contudo quando tal sujeito consegue elaborar os danos que tais comportamentos estão gerando em sua vida, este pode sim, desenvolver habilidades que lhe permita discriminar de forma assertiva a causa geradora de todas as consequências aversivas. Todavia nem sempre o sujeito consegue fazer tais discriminações sozinhos, mas consegue com uma intervenção de um profissional qualificado, o qual o auxiliará a desenvolver um repertório comportamental, onde este consiga discriminar e evitar se engajar, ou permanecer emitindo comportamentos imprudentes.

Encerro por aqui, deixando para vocês a oportunidade de analisarem a função que estão empregando aos seus comportamentos e se estas lhe estão sendo as mais acertadas, nos vemos em breve, aqui no Além da Caixa.

 

Cinthia Rafaelle Ferreira Lima

CRP15/ 3287       

Skinner, B. F. (2003). Ciência e comportamento humano. Tradução organizada por J. C. Todorov & R. Azzi. 11ª Edição. São Paulo: Martins Fontes.

Além da Caixa

O Além da Caixa é um espaço para a discussão dos mais diversificados temas sob a ótica da psicologia do comportamento. De maneira direta e com uma linguagem clara falaremos ao público em geral, mas sem destoar dos princípios da Psicologia Científica.
Seus responsáveis são os psicólogos comportamentais Cinthia Ferreira CRP 15/3287, Jacinto Neto CRP 15/3274, Jackelline Lima CRP 15/3275 e Renata Lopes CRP 15/3296, graduados em Psicologia pela Universidade Federal de Alagoas e pós graduação em Análise do Comportamento.
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