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As Crônicas Saxônicas - (Pra Quem Gosta de Idade Média!)

23/03/2016 12h12
23/03/2016 12h12
As Crônicas Saxônicas - (Pra Quem Gosta de Idade Média!)

          Olá, pessoas! Quem acompanha meu snap (castroneto) já deve ter percebido o quanto fiquei viciado nas Crônicas Saxônicas, do escritor Bernard Cornwell. Comprei o box com os sete primeiros livros (indicação do meu querido primo Ariquenes) e até demorei um pouco para iniciar a leitura dos mesmos, mas... Quando comecei, foi uma aventura alucinante. Pelos snaps deu pra perceber o quão vorazmente terminei esses livros, foram 30 dias para 7 livros. E estou querendo mais! (terminei o sétimo ontem e não tenho o oitavo ainda.. comecei a ler Legend, de Marie Lee, alguém já leu?).

          Acho que vocês já perceberam que sou fã de uma boa fantasia. Essa coisa de elfos, dragões, anões, duendes e outras criaturas fantásticas, realmente me fascina. Eu gosto mesmo é de magia, gosto de lobisomem, vampiro e bruxo. Bom, sou uma criança mesmo, quanto a isso (e um monte de outras coisas). Na verdade, eu nunca fui muito de ler livro "normal". Na maioria das vezes prefiro romances fantasiosos que os mais clássicos. Entretanto, decidi encarar essa indicação e comecei a ler As Crônicas Saxônicas e, meu amigo, esse tal de Bernard Cornwell escreve demais!

          Uma coisa ruim com esses livros foi que comecei a gostar menos da narrativa de guerra de outros autores. Até George Martin pareceu não ser tão bom no aspecto. Tolkien (me desculpem os apaixonados) não consegue se aproximar do espetáculo que Bernard proporciona ao narrar uma batalha na parede de escudos. Só pra deixar claro aqui, não estou comparando os autores no todo, mas em relação a narrativa de batalha. Para mim, Cornwell superou todos os outros autores nesse quesito especifico, o cara é fera! Você vai sentir o bafo de cerveja azeda enquanto o inimigo empurra seu escudo para trás, vai sentir o peso da espada depois da sétima estocada tentando acertar o alvo, vai sentir a lama e as tripas sob seus pés enquanto um amontoado de cadáveres se acumula no terreno.. Tudo isso e muito mais!

"Seus homens gritavam insultos, batiam com as armas nos escudos e avançavam lentamente, alguns passos de cada vez. Os saxões e anglo orientais do exército inimigo estavam sendo encorajados por seus padres, enquanto os dinamarqueses invocavam Thor ou Odin. Meus homens estavam na maioria silenciosos, mas acho que faziam piadas para encobrir o medo. Corações batiam mais rápido, bexigas se esvaziavam, músculos tremiam. Essa era a parede de escudos. As Crônicas Sax
ônicas – Morte de Reis, página 356."

         
        
Bom, isso é sobre Cornwell especificamente e acredito que vou reconhecer sua escrita sob qualquer codinome. Agora, vamos falar um pouco sobre As Crônicas Saxônicas em si.

 
     Uhtred de Bebbanburg. Esse é o nome do personagem que você irá acompanhar durante essa viagem fantástica. Vai conhecer Uhtred garoto, com 12 anos, vai conhecer o escravo, o Senhor da Batalha, o praticamente mendigo, e o quase Rei. Vai acompanhar Uhtred pelas vastas terras da atual Inglaterra e até por viagens através do mar. Você vai SER Uhtred durante um tempo.. E quando isso acabar, vai querer mais (eu já fico agoniado pesando que ele tá narrando velho e vai morrer algum dia.. tá aí, ele devia ser um elfo e viver eternamente – eu sei, perderia a graça). 

         
Pelo que andei lendo por ai, Bernard Cornwell fala do Wyrd na maioria dos seus livros. Para quem não conhece, o Wyrd é um conceito anglo-saxão que se refere ao destino pessoal, com raízes no paganismo. 

          Em síntese, quer dizer que tudo na sua vida já foi escrito antes. E que você não tem como fugir do seu destino. Vocês irão ver a frase “wyrd bio ful araed” (O destino é inexorável) com muita frequencia nessas crônicas e em outras obras de Bernard.. E é com essa certeza que Uhtred caminha entre as guerras. 

          Bernard escreve de uma forma realmente apaixonante, direta, franca e pouco fantasiosa. É algo que visivelmente ele se propõe a fazer e domina essa técnica com maestria sem igual. Ele é um mestre em descrever armaduras, espadas, homens, mulheres, terrenos e batalhas. Diferente de Tolkien, que é minuciosamente detalhista, você não sente tantos pormenores com Cornwell, mas, pelo menos no meu ponto de vista, a leitura dele é mais empolgante. Adoro Tolkien, acho “O Hobbit” maravilhosamente escrito e muito encantador. Mas Tolkien é como um passeio de barco em um rio relativamente calmo, com margens exuberantemente belas e você utilizando um binoculos para conseguir enxergar os detalhes. Uma experiência maravilhosa. 

          Já com Bernard Cornwell você enfrenta uma tempestade, cavalgando as ondas furiosas sob um barco Viking durante uma batalha a bordo. De modo que você sabe da chuva, enxerga os relampagos, sente o trovão vibrando seus ossos e o sal na boca, mas isso são coisas que ficam no segundo plano, você vai prestar mais atenção e deixar gravado na mente é o aço que bate contra seu escudo de tília e o sangue que teima em deixar o piso mais escorregadio ainda (ok, me empolguei descrevendo isso). 

        

          As Crônicas em si tratam da invasão dinamarquesa às terras inglesas, que na época não tinham esse nome. Historicamente, tudo começou com a invasão ao mosteiro de Lindisfarena, na Nortumbria. E é lá em cima que conhecemos Uhtred de Bebbanburg. Vamos acompanhar, nos primeiros livros, a trajetória de Alfredo, o rei que se autoproclamou Rei dos Anglo-Saxões. Dessa forma, seguiremos nosso quase herói Uhtred, que jurou retomar a fortaleza de Bebbanburg, usurpada por seu tio (parei para não contar mais spoilers) buscando maneiras para isso.. Enquanto decidi se é Dinamarques ou Saxão.


        
Outra coisa que me fascinou muito foi que Bernard segue, na medida do possível, os fatos históricos. Essa é uma oportunidade de aprender História lendo um romance extremamente bem feito.


          E se você seguiu meu conselho e assistiu a série Vikings, ou se já teve algum contato com a Era Viking, com toda certeza já ouviu falar de Ragnar Lothbrok. E vou te dizer uma coisinha, ele está aqui! E tem um papel fundamental na vida do nosso querido e temido Uhtred.

         
Fiquei mais fascinado ainda ao perceber que Ubbar e Ivar, filhos de Ragnar na série Vikings, tendem a ser o Ubbar e Ivar que aparecem nas Crônicas Saxônicas! E isso é incrível! (Não?! É sim!).
 

         
Eu gosto da narração em primeira pessoa, onde o personagem conta seu passado. Mesmo que isso deixe claro que o mesmo não vai morrer até determinado ponto, ainda assim acho interessante. E Cornwell está bem habituado com essa técnica narrativa. Ele é simplesmente fantástico nisso.


        
Posso ser repetitivo agora, mas tenho que ressaltar (mais um vez): até hoje não encontrei nenhum autor capaz de descrever tão bem uma batalha, com tanta sensibilidade e intensidade quanto Cornwell. Ele ganhou meu respeito e hoje encontra-se no meu top 3 de escritores (um top 3 que deve ter uns 5, mas tudo bem).

          É como eu já disse antes, você entra dentro da batalha. Você não a enxerga de longe, como pareceu que ela aconteceu ou sei lá. Você tá lá, você é Uhtred de Bebbanburg sustentando a parede de escudo do inimigo enquanto tenta cravar Ferrão de Vespa em quem estiver na frente. 



        
De Cornwell vocês podem esperar uma narrativa rápida, até certo ponto corrida, sem enrolação e com inúmeros momentos épicos e marcantes. Você vai aprender a gostar daquelas passagens instantâneas de tempo e ansiar por chegar logo o momento da batalha. O júbilo vai se fazer presente em você.
 

        
Outra coisa muito bacana nas Crônicas Saxônicas é o embate religioso. Naquela época, 850-900 D. C., o Cristianismo era algo estranho para muitos dos povos que cultuavam deuses mais antigos, como os escandinavos. Então teremos muitos embates entre os cristãos e os pagãos. E Cornwell trata isso muitíssimo bem. Ele traz Uhtred como pagão, no meio de cristãos e nos deixa ver o Cristianismo por um outro ângulo. Se você for um cristão fervoroso, que não admite opiniões diferentes da sua e críticas quanto a religião, melhor não ler.
 

        
Os rituais pagãos e as imposições cristãs, trazem momentos interessantíssimos para a trama toda, quando não estamos em batalha, claro.


          Bom, acho que é isso. Pra quem é fã da Idade Média, quem gosta de paredes de escudos, batalhas, intrigas, sangue e mitologia, pode começar a ler. Se você se assustou com o tamanho da saga (são oito livros até o momento), fique tranquilo. A leitura é muito fluída e os livros tem, em média, 350 páginas.


Por hoje é só! Esperam que tenham gostado. Abraço, pessoal! Até mais!

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