Maior canal do YouTube no Brasil, Kondzilla quer conquistar o mundo

Por Estadão 18/03/2018 11h11 - Atualizado em 18/03/2018 14h02
Por Estadão 18/03/2018 11h11 Atualizado em 18/03/2018 14h02
Maior canal do YouTube no Brasil, Kondzilla quer conquistar o mundo
Foto: Reprodução
Konrad Dantas, o Kondzilla, quer fincar os dois pés no exterior. Dono do maior canal do YouTube no País desde fevereiro, quando superou o humorista Whindersson Nunes, com seus videoclipes de funk superproduzidos, ele agora planeja espalhar o ritmo pelo mundo. Na última semana, ele deu dois passos nessa jornada: anunciou que vai dirigir uma nova série de ficção exclusiva para o serviço de streaming Netflix e participou do South by Southwest (SXSW), um dos maiores festivais de música e tecnologia do mundo, em Austin, nos Estados Unidos.

“É hora de começar tudo de novo. É briga de cachorro grande”, disse Dantas ao Estado em um hotel em Austin. “Não tenho tempo a perder.” Hoje, Kondzilla é o quinto maior canal do mundo no YouTube, à frente de ídolos pop como Ed Sheeran e Rihanna. Em dezembro, bateu pela primeira vez a marca de 1 bilhão de visualizações mensais no site - ao todo, já são mais de 15 bilhões de “views”.

Foi um longo caminho para o rapaz de 29 anos, que nasceu em Santos e cresceu no Guarujá, no litoral paulista. Seu apelido é uma mistura de Kond, como o irmão caçula falava seu nome quando criança, com o monstro Godzilla - o primeiro filme que viu no cinema, aos 11 anos. Mais tarde, ser diretor virou sua meta de vida. “Sonhava em trabalhar em Hollywood e fazer cenas de explosão”, conta.

Quando a mãe de Dantas morreu, em 2008, deixou a ele o dinheiro do seguro de vida para fazer um curso de cinema. Na época, ele ainda pensava em ser rapper, inspirado em nomes como Puff Daddy, Jay-Z e Dr. Dre - os dois últimos, também criadores de negócios como o serviço de streaming Tidal e a grife de fones de ouvido Beats.

“Não tinha grana para alguém fazer meus clipes, então eu mesmo fiz”, diz. Literalmente: seu primeiro vídeo, “Desse Jeito”, foi do projeto Litoral Sujo, um coletivo de rap da Baixada Santista. Nele, Kondzilla também aparece rimando com boné virado pra trás e óculos escuros.

Baile de favela. Em 2011, Kondzilla deu um salto de fé: largou tudo para se dedicar aos videoclipes, enquanto era bancado pelo irmão mais novo. “Mesmo sem clientes, eu precisava ter estrutura, com carro, equipamentos. Meu irmão pagava as contas e eu tentava dar certo.”

Naquele ano, Kondzilla fez quatro clipes. Um deles, “Megane”, do MC Boy do Charmes, de São Vicente, foi pioneiro no funk ostentação - tendência que preza os bens materiais e ajudou a consagrar o diretor. “Eu cheguei na Cidade Tiradentes pra gravar e não tinha nada, peguei tudo emprestado, da roupa à corrente de ouro”, lembra Boy do Charmes. “No final, pagamos R$ 900 para o Kondzilla pelo clipe fazendo uma vaquinha.”

Publicados no YouTube, os primeiros vídeos não deram retorno. Em setembro de 2011, Dantas estava quase desistindo, quando foi convidado para dirigir um DVD da banda Charlie Brown Jr. O sucesso do projeto fez o número de encomendas de clipes subir, atraindo funkeiros como MC Guime, MC Nego Blue e MC Dede. “A internet tem limitações, curadorias e interesses, mas é o jeito mais democrático de publicar conteúdo”, diz o produtor. “Na TV, era preciso mandar uma fita e ganhar aprovação de alguém que teria preconceito com o funk. Talvez a gente nunca exibisse o vídeo.”

Não demorou para o estilo de Dantas ser copiado. Mas a linguagem própria e o uso intenso de tecnologia o diferenciou. “Ele faz umas tomadas e umas edições que só os gringos têm. Dá pra sacar na hora”, conta MC Guime. “Ele é humilde e quieto, a gente se entende. Só os loucos se conhecem.”

Envolvimento. Hoje, a empresa Kondzilla é bem mais que uma produtora de videoclipes. O empresário Dantas comanda uma equipe de cinco diretores - ele mesmo só filma um vídeo a cada 40 dias. Além disso, o grupo ainda é uma gravadora; uma grife de roupas; promotora de shows e também mantém um portal de conteúdo, o Kondzilla.com. “É meu bebezinho”, diz. “Quero dar voz ao jovem da periferia, que é invisível.”

Segundo a plataforma de dados SocialBlade, o canal Kondzilla fatura ao menos US$ 200 mil por mês com anúncios. O valor, porém, não inclui acordos com marcas. Com o tempo, Kondzilla subiu a serra: hoje, mora e trabalha no Tatuapé, na zona leste de São Paulo. Mas não para em casa: depois de Austin, deve passar os próximos meses entre EUA e Europa.

Olha a explosão. “O Kondzilla vai ser uma corporação mundial”, diz Arthur Fitzgibbon, diretor da OneRPM no Brasil. O primeiro passo para isso é exportar o funk - passo já dado por artistas como Anitta e Livinho. Kondzilla diz já ter fechado os primeiros contratos com artistas de fora. Para Yasmin Muller, curadora do serviço de streaming Deezer, o funk tem alto potencial de exportação. “Ele é o próximo reggaeton e o Kondzilla pode puxar essa fila.”

Além disso, outra meta de Dantas é diversificar aonde distribui seus projetos. Por isso, a série de ficção em oito episódios Sintonia, que chegará ao Netflix em 2019, em parceria com a produtora Losbragas, da atriz Alice Braga, é um passo importante. “As plataformas que existem hoje podem acabar. E eu, morro também?”, diz Dantas. “Por isso, invisto no meu portal de conteúdo.”

O santista não esconde que sabe estar razoavelmente perto de realizar um sonho de infância - Hollywood, é claro. “A Netflix vai ser ótima porta de entrada. Se tiver que rolar, vai rolar”, diz. “Se não, tudo bem. Estou bem atarefado”, agora inspirado não nas rimas, mas nas cifras faturadas por Jay-Z e Dr. Dre. Essa receita deu onda.