O Fantástico deste domingo (08) exibiu três casos de corrupção, dentre eles, dois envolvendo os municípios alagoanos de Tanque D'Arca e São Luiz do Quitunde. No primeiro, foi denunciada improbidade administrativa do prefeito interino Antônio Teixeira (PMN), que foi flagrado recebendo propina de um empresário responsável pela construção de uma creche e também de um ginásio esportivo, onde teria recebido cerca de R$ 150 mil, ao todo. No segundo, em São Luiz do Quitunde, a reportagem denunciou casos de corrupção que vêm afetando a Educação do município.

TANQUE D'ARCA

O repórter do quadro “Cadê o dinheiro que tava aqui?” procurou Antônio Teixeira (PMN), prefeito interino de Tanque D'Arca, para perguntar sobre o que ele achava da corrupção, sem que ele soubesse da existência de um vídeo em que é flagrado recebendo propina. Indagado se alguma vez já havia recebido dinheiro de uma empresa de construção, cujo nome foi preservado na reportagem, o prefeito Antônio Teixeira respondeu que “de maneira alguma. Tô com a minha consciência tranquila”. “O senhor deita de noite e dorme?”, perguntou o jornalista. “Durmo tranquilo”, respondeu o prefeito interino.
 

Prefeito interino Antônio Teixeira, em entrevista ao Fantástico (Foto: Reprodução).

Entretanto, Antônio Teixeira havia sido flagrado recebendo um dinheiro suspeito, em que o dono da construtora responsável pela construção de uma creche e um ginásio da cidade aparece pagando propina a Antônio Teixeira.
 

Antônio Teixeira foi flagrado colocando dinheiro nas meias (Foto: Reprodução/ Vídeo).

Antônio Teixeira era presidente da Câmara de Vereadores da cidade e passou a substituir o então prefeito Roney Valença (PMDB), afastado do cargo acusado pelo Ministério Público de Alagoas (MP/AL) por improbidade administrativa. De acordo com o MP, Valença e seu vice-prefeito, Valdemir Bezerra (PMDB), respondem por várias acusações de desvios de recursos.

As obras da creche e do ginásio de esportes foram interrompidas ainda na gestão do então prefeito Roney Valença (PMDB). Ele e o vice-prefeito foram afastados dos cargos, em 2013.

Em entrevista ao Fantástico, o vereador João Vasconcelos (PRP) afirmou que a verba foi repassada ao município. “O dinheiro veio, recurso federal. O dinheiro desapareceu e ninguém sabe para onde foi”, afirmou o vereador. Já o prefeito afastado de Tanque D'Arca, Roney Valença, afirmou que todo o recurso federal repassado foi aplicado na obra.
 

Prefeito afastado, Roney Valença afirmou que o recurso foi aplicado nas obras (Foto: Reprodução/ Fantástico).

Com a imagem censurada, o empresário que denunciou o caso afirmou que foi chantageado por Antônio Teixeira para que pagasse uma comissão. “Ele dizia que ía cancelar os meus contratos. Ele queria que eu desse algum dinheiro a ele. Tudo com ele tem que ser no dinheiro. Se não tiver dinheiro, não faz, não”, afirmou o empresário. O empresário disse, ainda, que repassava 30% de cada obra, desviada para o bolso e também para as meias de Antônio Teixeira, literalmente, como aparece nas imagens do flagrante.

 

O empresário disse que passou a ser, de certa forma, intimidado pelo prefeito interino. “E ele ficou me perseguindo, ainda, por sinal, ainda teve várias vezes passando pelo meu escritório, parando o carro. Eu fiquei com medo, entendeu? Tinha medo até de morrer, porque ele é perigoso”, reforçou o empresário. Todo o material gravado já está sendo analisado pelo Ministério Público do Estado.
 

No último pagamento, quando houve o flagrante pelo próprio empresário, foram repassados R$ 15 mil a Antônio Teixeira e, ao todo, desde que ele assumiu a prefeitura da cidade, já foram cerca de R$ 150 mil, de acordo com o empresário. Quando recebeu o repórter secreto, como é conhecido o profissional do quadro, Antônio Teixeira não tinha conhecimento do vídeo e deu respostas não contundentes, uma vez que afirmou que não conhecia a empresa responsável pelas obras da prefeitura. “Não, não tenho relação nenhuma com a empresa”, afirmou.

“Eu não sou de ficar devendo favor a ninguém. Eu fico devendo favor os eleitor” (sic), respondeu Antônio Teixeira. Quando perguntado sobre o que acha da Corrupção, Teixeira não se intimidou a falar sobre o assunto. “Eu acho que é a hora de chegar e dizer 'chega de corrupção'”, complementou ao Fantástico.

SÃO LUÍS DO QUITUNDE

Para o procurador-geral de Justiça, Sérgio Jucá, a corrupção em Alagoas é endêmica [que afeta significativamente uma certa região e/ou população] e em especial ao município de São Luís do Quitunde, onde houve desvios de verba da Educação e professores não recebem salário há três meses. “Ele se envolveu em dezenas de atos de corrupção, de atos de improbidade administrativa, bem como de infrações penais que atentam contra o erário”, disse Sérgio Jucá, se referindo ao prefeito do município, Eraldo Pedro (PMDB).

Para o estudante Anderson da Silva, um dos que compunham o protesto nas ruas da cidade, os desvios do dinheiro público causam transtornos à comunidade discente. “Como estudante, eu me sinto triste, indignado, porque a gente estuda o ano todinho, quando chega no meio do ano, a gente para por causa do prefeito”, comentou. “A gente só quer ter o direito de poder estudar”, ressaltou outro estudante.
 

Estudante Anderson Silva relata descontentamento com a falta de investimento na Educação
de São Luís do Quitunde (Foto: Reprodução/ Frantástico).

Em protesto, populares percorreram as principais ruas da cidade, para cobrar uma resposta da Justiça. Durante a reportagem, quatro ônibus escolares estavam estacionados em frente a Secretaria de Educação do Município e a população informou que os veículos não estão circulando como deveriam, devido à paralisação na Educação.
 

Professores protestam contra os três meses de atrasos no pagamento do salário (Foto: Reprodução/ Fantástico).
 

Ônibus estacionados em frente a Secretaria de Educação (Foto: Reprodução/ Fantástico).

Acusado de improbidade administrativa, o prefeito Eraldo Pedro (PMDB) foi flagrado em uma corrupção explícita, quando recebia cerca de R$ 4 mil do empresário Mourivaldo Rodrigues, dono de uma locadora de carros que emitia notas frias. “Ele entrou, peguei o dinheiro na gaveta, contei, quatro mil, e entreguei a ele”, disse Mourivaldo. Segundo a reportagem, a propina era mensal e Mourivaldo emitia para a prefeitura notas frias de um aluguel de mentira. As notas eram pagas com dinheiro público e Mourivaldo entregava o dinheiro ao prefeito Eraldo Pedro. O prefeito também é acusado de pagar despesas pessoais com o dinheiro da prefeitura.
 

 

IELMO MARINHO, RN

Os casos de corrupção não afetam apenas algumas cidades de Alagoas. Na cidade de Ielmo Marinho, no Rio Grande do Norte, foram constatadas várias irregularidades na área da Saúde, devido ao desvio de dinheiro público que seria destinado ao setor. Foram flagradas várias ambulâncias sucateadas, faltando materiais como oxigênio e macas.
 

Os contratos investigados pelo Ministério Público do Rio Grande do Norte chegam a mais de R$ 8 milhões. De acordo com o procurador-geral de Justiça daquele Estado, Rinaldo Reis, um cidadão denunciou o caso ao Ministério Público e quando o prefeito da cidade, Bruno Patriota Medeiros, ficou sabendo do caso, tentou comprar o silêncio do denunciante por R$ 10 mil.
 

Procurador-geral de Justiça do Rio Grande do Norte, Rinado Reis (Foto: Reprodução/ Fantástico).

Orientado pelo Ministério Público, o cidadão filmou o encontro que aconteceu em um shopping de Natal. Ainda no estacionamento do shopping, o prefeito entregou um documento para que o denunciante assinasse e registrasse em cartório o pedido de desistência da denúncia.
 

Bruno Patriota tenta comprar o silêncio de um denunciante (Foto: Reprodução/ Fantástico).

Bruno Patriota foi afastado do cargo e disse que levaria o documento à Justiça, mas que foi denunciado antes. “Eu fui pego numa armadilha, mas o meu intuito era desmascarar a Câmara. Eles querem cassar prefeito e vice para assumir a prefeitura, é muito simples”, afirmou o prefeito afastado.
 

Prefeito afastado, Bruno Patriota teria tentado comprar dois vereadores para estagnar processo na
Câmara de Vereadores (Foto: Reprodução/ Fantástico).

Ainda de acordo com o procurador de Justiça daquele Estado, Rinaldo Reis, dois vereadores denunciaram que Bruno Patriota tentou comprá-los para que o processo não tivesse andamento na Câmara de Vereadores. “Dois vereadores também vieram ao Ministério Público e relataram que o prefeito ofereceu, também, a cada um deles, o valor de 35 mil reais, e mais uma secretaria para cada um, a secretaria de Educação e de Saúde daquele município, para que esses vereadores também não levassem a frente as investigações lá na Câmara Municipal”, completou Rinaldo Reis. 

 

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