38 jovens de Alagoas são encontrados em condições subumanas no Rio

Por Redação com Gazetaweb com Redação com Gazetaweb 01/10/2014 10h10
Por Redação com Gazetaweb com Redação com Gazetaweb 01/10/2014 10h10
38 jovens de Alagoas são encontrados em condições subumanas no Rio
Alan Silva (PRTB) foi denunciado por levar jovens ao RJ com a promessa de empregá-los - Foto: Reprodução/Divulgação
Trinta e oito garotos de 13 a 21 anos foram trazidos do interior de Alagoas e da periferia de Maceió há 50 dias, acreditando na falsa promessa de que participariam de testes para jogar futebol no Vasco e no Fluminense. 

Após uma denúncia anônima, a Secretaria estadual de Direitos Humanos descobriu que os meninos eram submetidos a condições indignas numa casa alugada em Guapimirim, na Baixada Fluminense, violando diversos artigos do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Sem autorização formal dos pais para estarem no Rio, dividiam um único banheiro e eram os responsáveis por limpar a casa e lavar as roupas. O Ministério Público ajuizou uma ação civil pública, e o grupo volta esta semana para Alagoas. Na bagagem, os sonhos destruídos.

"O Alan mexeu com o meu sonho e o dos moleques. Não estou nem dormindo direito", contou um dos meninos.

O responsável por trazê-los é o candidato a deputado estadual em Alagoas Alan Nunes Silva (PRTB), que deixou o Rio há duas semanas, após depor no MP, e se diz diretor do projeto Gool de Placa, que traria garotos carentes do Nordeste para testes no Rio. Cada menino pagou R$ 550 ao acusado para custos da viagem de ônibus para o Rio.

O Vasco e o Fluminense negam conhecer Alan, que também prometeu a oito meninos um contrato com um time na Bélgica. A suposta viagem seria em novembro. Ao ser ouvido no MP, no entanto, Alan não soube dizer o nome do time ou de um eventual contato no país europeu. Tampouco sabia que a moeda belga é o euro ou que uma das línguas faladas é o francês. Alan dizia aos garotos que não sabia especificar o time porque seria “um nome complicado”.

"Enviei cópias da ação para o MP Federal e o MP do Trabalho, para que analisem se ocorreu tráfico de pessoas e trabalho infantil, respectivamente. Como há viagem marcada para a Bélgica se eles sequer têm passaporte?", explicou a promotora Soraia Salles, responsável pela ação.

Trabalho diário

Não há TV no local, e todos dormem em colchonetes finos. Os adolescentes ficam sob responsabilidade de Giédria Ferreira, de 36 anos, funcionária de Alan há dois meses, e Edilene Rocha, de 32, mãe de um dos meninos. São os garotos que fazem a arrumação e a limpeza, seguindo uma escala diária de trabalho. Caso não aceitem, são ameaçados com a perspectiva de retornar para Alagoas.

"Coloco disciplina. Eles têm medo. Exijo respeito. Sou muito carinhosa, mas existe a hora da disciplina. Os pais sabiam que eles viriam ajudar a gente nas tarefas. Ninguém pode dizer “meu pai não sabia disso”, disse Giédria.

A Secretaria de Direitos Humanos discordou:

"Os garotos estão fora da escola, sem acomodações dignas. É a exploração da vulnerabilidade", lamentou Monalyza Alves, da Casa de Direitos, órgão da secretaria.

Menino tratado como ídolo em Alagoas

Um dos jovens enganados por Alan com a promessa de ir jogar na Bélgica já era tratado como ídolo em sua cidade, no interior de Alagoas. Animado, o menino deu entrevistas ao vivo para a rádio da cidade, de menos de 30 mil habitantes.

"Todos na minha cidade estão muito felizes com essa novidade. Antes de viajar para a Bélgica, quero ir lá visitar todos. Acho que vou ser recebido com festa", contou o menino.

O MP identificou pelo menos três violações ao Estatuto da Criança e do Adolescente. Primeiro, a falta de acesso a educação, já que apenas cinco garotos estão matriculados na rede pública. Segundo, o precário acesso a saúde, pois os meninos relataram dificuldade de atendimento médico quando um deles passou mal. Finalmente, a falta de convivência familiar: eles estão há quase dois meses longe de casa.

Ainda não está claro qual seria o benefício de Alan ao enganar os garotos. Ele os selecionou em eventos pelo interior. A viagem de ônibus para o Rio seria custeada em parte pela contribuição dos pais, que concordaram com a viagem dos meninos. Quase todas as famílias já foram contatadas pelo MP e confirmaram, mas não foi apresentada nenhuma procuração que autorizasse Alan a estar com os garotos. Do total, 30 têm menos de 18 anos. Três dos maiores de idade retornaram para o Nordeste há duas semanas, com Alan.

O retorno dos demais será pago pela Prefeitura de Guapimirim e pelo governo do estado, que são réus na ação ajuizada pelo MP. A casa em que os garotos estão é vigiada por um carro da PM. Psicólogos e assistentes sociais da Prefeitura de Guapimirim e do estado têm conversado com o grupo. Alguns choram todos os dias. Na casa, eles dizem que a proprietária impede o uso do campo de futebol, para que o gramado não seja gasto. A única bola foi embora com Alan.

Procurado, Alan não respondeu aos recados. Ao MP, ele não mostrou nenhum documento que provasse ter contatos no Rio para os supostos testes. 


 
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