Agentes acham cartas com ameaças e exigências de presos em Alagoas

Por Redação com G1 Alagoas com Redação com G1 Alagoas 16/09/2014 09h09
Por Redação com G1 Alagoas com Redação com G1 Alagoas 16/09/2014 09h09
Agentes acham cartas com ameaças e exigências de presos em Alagoas
Juiz reforça suspeita de envolvimento de presos alagoanos com facções criminosas - Foto: Reprodução - Divulgação
Correspondências encontradas no sistema prisional de Alagoas no início deste mês indicam que presos no estado mantêm contato com uma facção criminosa que age dentro e fora dos presídios. A reportagem teve acesso com exclusividade aos manuscritos, que trazem ameaças, exigências de regalias e reclamações sobre o modo de tratamento dos presos. O juiz da 16ª Vara de Execuções Penais, José Braga Neto, confirma a suspeita de que a facção criminosa tem braços em Alagoas, mas diz que isso ainda está sendo investigado.

Carta sugere comunicação entre membros de organização criminosa (Foto: Reprodução)

Alguns textos, como o da carta acima, estimulam a união entre os presos. Segundo agentes penitenciários ouvidos pela reportagem, que pediram para não serem identificados, as cartas são uma forma de desafiar as autoridades. Segundo eles, os presos usam o nome da facção, que surgiu na década de 1990 nos presídios de São Paulo, para demarcar território dentro da prisão.

As cartas foram interceptadas durante uma vistoria realizada nos dias 6 e 7 nos presídios Cyridião Durval e na Casa de Custódia da Capital, conhecida como Cadeião. Segundo os agentes, elas representam apenas uma pequena parte do que circula dentro das unidades. Os manuscritos trazem ainda ameaças de morte a funcionários, além de pedidos de regalias e reclamações por parte dos presos.

Em outra carta, os presos fazem uma série de exigências enumeradas. A 15ª da lista pede a saída do coordenador de operações do Presídio Desembargador Luiz de Oliveira Souza, no Agreste do estado, identificado pelos presos como "Allemberg", funcionário da empresa Reviver.
 
Cartas trazem ameaças a funcionários (Foto : Reprodução) 

A reportagem entrou em contato com diretor-presidente da Reviver, que tem sede em Salvador. De acordo com Odair Conceição, o funcionário chama-se Rollemberg (ele não soube informar o nome completo do funcionário) e está na função desde que o presídio foi inaugurado no município de Girau do Ponciano. "Encaramos essa ameaça como uma tentativa de os presos se livrarem de um funcionário que trabalha dentro da legalidade. Como os internos do Agreste estão ali sem direito a nenhuma regalia, como drogas ou celulares, querem intimidá-lo", afirma.

O presidente da Reviver diz ainda que não é a primeira vez que se levantam suspeitas acerca da conduta de funcionários do presídio do Agreste. "Já houve outras insinuações desse tipo, mas nossas políticas são muito severas. De qualquer forma, vamos pedir que seja feita uma apuração e se for constatada alguma irregularidade, serão tomadas as medidas cabíveis para que elas sejam sanadas", afirma Conceição.

Investigações

Outra carta cobra dos "integrantes" ações sérias contra o que chamam de opressões, assassinatos e covardias "realizadas por agentes penitenciários e policiais civis e militares". A Secretaria de Ressocialização e Inclusão Social (Seris) confirmou a descoberta dessas cartas durante vistorias e informou que elas não são as únicas. Apesar dos indícios da ligação de presos com facções criminosas, a Secretaria diz que as correspondências não são uma prova concreta.

 
Cartas foram encontradas em vistorias nas celas (Foto: Reprodução)

Por meio da assessoria de comunicação, a Seris afirma que todo o material encontrado e as suspeitas sobre a conduta dos agentes penitenciários são investigados por um serviço que trabalha de forma estreita com outros serviços de inteligência, como os da Polícia Civil e do Ministério Público do Estado de Alagoas (MP-AL).

O juiz da Vara de Execuções Penais, José Braga Neto, reforça a suspeita de envolvimento de presos alagoanos com facções criminosas, mas disse que isso ainda não está comprovado. “Não podemos negar o fato de que existem essas cartas e outras coisas que podem ser indícios, mais ainda não há uma prova definitiva”, falou.

Assim como a Seris, Braga Neto disse que tudo que foi encontrado nas unidades está sendo investigado. “Depois que os órgãos competentes fazem a investigação é que a Justiça é informada e toma as providências cabíveis”, explicou o magistrado.
 
 
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