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Os dois ladrões e a cruz de Cristo

Por Sérgio Nicácio Lira 26/10/2016 15h03
Por Sérgio Nicácio Lira 26/10/2016 15h03
Os dois ladrões e a cruz de Cristo
Foto: Ilustração
 
Vamos para mais um encontro? Que Deus nos ajude e nos revele a sua palavra. Hoje vamos falar sobre os dois ladrões e a cruz de Cristo. Usaremos como texto base a passagem que se encontra no livro de Lucas, capítulo 23, versículos de 39 a 43, que diz:

“E um dos malfeitores que estavam pendurados blasfemava dele, dizendo: se tu és o Cristo, salva-te a ti mesmo, e a nós. Respondendo, porém, o outro, repreendia-o, dizendo: Tu nem ainda temes a Deus, estando na mesma condenação? E nós, na verdade, com justiça, porque recebemos o que os nossos feitos mereciam; mas este nenhum mal fez. E disse a Jesus: Senhor, lembra-te de mim, quando entrares no teu reino. E disse-lhe Jesus: Em verdade te digo que ainda hoje estarás comigo no Paraíso”.

Caros amigos e irmãos em Cristo, nessa passagem que acabamos de ler, o evangelista Lucas relata uma história real que aconteceu no calvário. Ele descreve com detalhes o momento em que Jesus fora crucificado juntamente com outros dois homens. Ele diz que eram dois ladrões (malfeitores) e um deles olhou para Jesus e pronunciou as seguintes palavras: “se tu és o Cristo, salva-te a ti mesmo, e a nós”. Nota-se na fala dele um tom de ironia em relação à situação de Jesus, pois como era que o filho do Deus altíssimo poderia ser morto numa cruz. Em outras palavras, ele estava dizendo o seguinte: “você aí que se diz Deus dos judeus, mostra teu poder agora e nos salva desta morte de cruz, ou será que você não é Deus coisa nenhuma?”. Na verdade, a única preocupação dele era escapar da condenação dos homens. Em nenhum momento ele demonstrou arrependimento pelos males que havia cometido. Ele estava tão preocupado em escapar da condenação que lhe fora imposta pelos homens, que não se deu conta de que quem estava ali ao seu lado era o Salvador do mundo. Ele somente enxergou em Jesus a possibilidade de se livrar da cruz que o prendia, ou seja, ele queria usar Jesus para resolver seu problema imediato e terreno. Quantas pessoas não estão indo nesse mesmo caminho, pois vão à igreja em busca de satisfação pessoal, de milagres e de riquezas para esta vida. Esquecem elas que Jesus veio para este mundo com o propósito de nos dar a vida eterna, e não para satisfazer nossa necessidade imediata. Inclusive, os próprios milagres que Jesus realizava não tinham o objetivo final de satisfazer as necessidades momentâneas das pessoas, mas serviam para revelar que ele era o Messias prometido por Deus. Tanto é assim, que o evangelista João chama os milagres que Jesus fazia de sinais. O sinal serve apenas para apontar a direção que devemos seguir, não é um fim em si mesmo. Por isso, não devemos seguir os milagres, mas aquele que realiza tais feitos. Foi exatamente isso que Pedro fez no dia da pesca maravilhosa. Diz a Bíblia que num certo dia Jesus chegou para Pedro e outros pescadores, após eles terem passado uma noite toda no mar, sem pegar um peixe sequer, e disse: joguem a rede agora e vejam o que vai acontecer. De imediato eles jogaram a rede ao mar, e para surpresa deles, a rede voltou cheia de peixes. A Bíblia diz que era tanto peixe que o barco quase virou. Naquele instante, Pedro ficou maravilhado com aquilo que Jesus havia feito, e Jesus olha para ele e diz: Pedro, segue-me, a partir de agora serás pescador de homens. Pedro não pensou duas vezes, deixou tudo para trás e foi com o mestre. Moral da história, Pedro deixou o milagre para seguir o dono do milagre. (Lc 5:1-11).

Voltando a história dos dois ladrões, a Bíblia relata que, antes que desse tempo de Jesus responder à indagação feita pelo primeiro malfeitor, o segundo malfeitor se intrometeu na conversa e respondeu ao primeiro: “tu nem ainda temes a Deus, estando na mesma condenação? E nós, na verdade, com justiça, porque recebemos o que os nossos feitos mereciam; mas este nenhum mal fez. E em seguida, olhou para Jesus e disse: Senhor, lembra-te de mim, quando entrares no teu reino”. Foi nesse momento que Jesus se manifestou: “Ainda hoje estarás comigo no paraíso”.

Fica nítida a diferença de postura dos dois ladrões, pois apesar de estarem em situações idênticas, apenas o segundo reconheceu que era pecador e que necessitava da misericórdia de Deus para sua vida, demonstrando frutos de arrependimento e, conseguindo com isso, o perdão de todos os seus pecados, sendo de imediato justificado por Jesus.

Acho fantástica essa história, pois através dela Jesus nos dá várias lições. Se observarmos bem essa passagem, vamos perceber que foi na pior hora das vidas dos dois malfeitores que se revelou aquilo que estava dentro do coração de cada um deles. Assim também acontece conosco. As piores horas são excelentes para revelar o que há dentro de nós. Quem tem um coração voltado para Deus, como tinha o segundo ladrão, vai reconhecer que somente Jesus poderá salvá-lo da morte eterna. Por outro lado, quem tiver o coração afastado de Deus tenderá a blasfemar contra Ele e O culpará por tudo aquilo que lhe acontece, é o sentimento do primeiro ladrão.

Podemos perceber ainda, que a lei dos homens não reflete a lei de Deus, pois nem sempre elas são convergentes. Pode acontecer, e de fato acontece, de um ladrão, um estuprador, um homicida ser condenado à morte pelos homens, mas ser justificado diante de Deus. A lei dos homens pode ser para a morte, mas a lei de Deus é para a vida. Muitas vezes, olhamos para o outro e dizemos: esse aí não tem jeito, já está condenado. Aí vem Jesus e diz para um ladrão: AINDA HOJE ESTARÁS COMIGO NO PARAÍSO.

Certa feita, levaram uma adúltera para ser julgada por Jesus, e o julgamento dele não foi outro se lhe perdoar todos os pecados e pedir que ela não voltasse a cometer aquele tipo de pecado (Jo 8: 1-11). Enquanto isso, os escribas e a multidão (nós) queriam apedrejá-la. O que aprendemos com isso? Aprendemos que não temos capacidade de julgar ninguém, pois na medida em que julgarmos os outros, seremos julgados (Mt 7: 1-5). A palavra de Deus diz que quem separa o joio do trigo é Jesus, e não nós (Mt 13:30). Quem somos nós para decidirmos o futuro de um pecador? Se todos somos pecadores e necessitados da graça de Deus.

Nesse momento, quero convidar você a fazer uma viagem comigo, vamos voltar no tempo, há mais de dois mil anos. Vamos ao calvário. Agora imagine que você está no meio da multidão que assistia à crucificação de Cristo e dos dois malfeitores. Ah, antes que eu me esqueça, faça de conta que o evangelista Lucas não escreveu essa passagem na Bíblia. Você quem vai narrá-la, ok? Faça de conta que você presenciou a conversa entre Jesus e os dois ladrões, mas não deu para escutar do que eles falavam. Pois bem, com base nessas informações, como você descreveria aquela cena, do que eles conversavam, o que Jesus falou para eles? Pense um pouco!

Como não terei como saber sua resposta, vamos às possibilidades: se você é um Cristão conservador e legalista, irá dizer que os dois ladrões estavam conversando sobre uma forma de escapar daquela cruz, e Jesus teria dito para eles que o destino deles já estava traçado, pois além de receberem a condenação dos homens, certamente receberiam a condenação eterna, que seria ir para o inferno. Sei até o versículo que você irá citar, 1 Cor 6:10, que diz: “os ladrões não herdarão o reino de Deus”. Por outro lado, se você é um cristão liberal, sua resposta será: Jesus estava apenas consolando os malfeitores e dizendo para eles que estava tudo bem, pois o reino é para os dois, independentemente de eles se arrependerem, ou não, de seus feitos, pois Jesus não disse que veio salvar a todos e que não iria perder nenhum. Agora, caso você seja um espírita, sua resposta será: Jesus, estava explicando aos ladrões que aquilo que eles estavam passando iria servir para que suas almas fossem purificadas e para que pagassem os pecados de outra vida, mas ficassem tranquilos que eles iriam voltar em outro corpo para uma vida melhorzinha. E aí, você se encaixa em uma dessas respostas?

Contei essa história, para que você perceba como podemos ter várias interpretações, a depender de como percebemos aquilo que está acontecendo ao nosso redor. Cada um de nós somos tendenciosos a criar nosso próprio juízo de valor sobre aquilo que nossos olhos veem. Graças a Deus que essa história dos dois ladrões narra a fala dos personagens, pois se assim não fosse, como saberíamos que um ladrão arrependido saiu justificado diante de Deus e que o outro não foi justificado. Ah, outra coisa, perceberam que Jesus em momento algum falou em purgatório, nem em reencarnação. Pelo contrário, o que Jesus disse ao ladrão arrependido foi que ele ainda hoje estaria no paraíso. Aqui, abro um parêntese para mostrar aos irmãos que a doutrina do purgatório e a doutrina da reencarnação são incompatíveis com o Evangelho de Jesus Cristo. Não há base para elas no evangelho da graça, mas, o assunto aqui é outro, muito mais profundo, continuemos...

Quero que nós avancemos um pouco mais nessa revelação, mas para isso, tenho que te fazer outra pergunta, tudo bem? Seja bem sincero, na sua concepção o ladrão vai entrar no paraíso como ladrão mesmo ou como santo diante de Deus? O que você acha? Antes de responder, lembre-se de uma coisa, a Bíblia diz que os salteadores não herdarão o reino de Deus, pois somente os santos o herdarão. E agora como ficará a situação dele?

A resposta é simples: quem vai entrar no paraíso é um homem santo aos olhos de Deus, pois a Bíblia também diz que somos justificados pela fé em Jesus, ou seja, no momento em que nos arrependemos dos nossos maus caminhos, todos os nossos pecados são perdoados (Rm 5:1). Isso é fantástico, não é? Para muitos eu sei que soa como um absurdo, como um escândalo, principalmente para aqueles que acham que somente vão para o paraíso aquelas pessoas que têm uma vida certinha, que são generosas, que são caridosas, que são batizadas, que dão o dízimo todo mês, que guardam o sábado, que fazem isso, que fazem aquilo... Aí vem Jesus e manda um ladrão direto para o paraíso, sem arrodeios, sem meio termo, sem exigir nada dele. Pois é, por isso que o evangelho é loucura para os que não creem. Essa é a maravilhosa graça de Deus. Que bom que é assim, pois todos somos pecadores e necessitados dessa misericórdia divina. É confortante sabermos que apesar das nossas transgressões, Deus sempre dá uma chance para nos arrependermos e buscarmos refúgio nEle. Na hora em que a revelação de Deus entra dentro de nós, não mais nos importamos com o que vai acontecer conosco nesse mundo, pois já fomos crucificados para este mundo juntamente com Cristo. Não somos deste mundo, estamos apenas de passagem por aqui. Temos que ter a certeza absoluta de que todas as nossas dívidas já foram pagas na Cruz do calvário. A cruz simboliza a reconciliação de Deus para conosco. É um novo e vivo caminho que se abre para todos, basta nos arrependermos dos maus caminhos e confessarmos Jesus como nosso Salvador, só isso!

Por último, espero que após termos visto tudo isso, nossos olhos comecem a enxergar as pessoas de uma forma diferente, sem julgá-las por aquilo que elas são, pois não cabe a mim, nem a você fazer julgamento de ninguém. Responda apenas por aquilo que diz respeito a você mesmo, e não se meta no juízo dos outros, pois isso não nos diz respeito. Nem tudo que parece é! Ademais, o próprio Cristo já disse que os publicanos e as prostitutas precederam a muitos no reino de Deus (Mt 21:32). Que Deus nos abençoe e nos guarde. Amém! Até o próximo. Um grande abraço.

Conhecerás a verdade, e a verdade vos libertará (Jo 8:32) Sérgio Nicácio Lira