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Tema da redação do Enem causa polêmica, mas ganha elogios por todo o país

Por Niel Antonio 26/10/2015 12h12
Por Niel Antonio 26/10/2015 12h12
Tema da redação do Enem causa polêmica, mas ganha elogios por todo o país
Foto: Ministério da Educação
O tema da redação do último Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) ganhou elogios por parte de vários órgãos públicos do Brasil, principalmente aqueles que promovem ações em defesa da mulher. Estudantes, professores, representantes públicos e famosos utilizaram as redes sociais para enaltecer a sensibilidade do Ministério de Educação (MEC), que fez com que 7.746.261 estudantes, dos quais 4.458.265 (57,5%) são do sexo feminino, debatessem sobre o tema “A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira”.

Entretanto, houve quem não gostou nem um pouco de uma questão da prova, a exemplo dos deputados Jair Bolsonaro (PP-RJ) e Marco Feliciano (PSC-SP), por tratar sobre lutas feministas no início do século XX. Com a frase "Não se nasce mulher, torna-se mulher", da escritora e filósofa francesa Simone de Beauvoir, a questão solicitava que o aluno identificasse a contribuição daquele contexto, tratado pela escritora, para um movimento social que teve como marca a organização de protestos públicos para garantir a igualdade de gênero.

Marco Feliciano usou seu perfil no Facebook para criticar a questão. "Essa frase da Filósofa Simone de Beauvoir é apenas opinião pessoal da autora, e me parece que a inserção desse texto, uma escolha adrede, ardilosa e discrepante do que se tem decidido sobre o que se deve ensinar aos nossos jovens", disse ele.

"Esse texto se encaixa como luva na teoria de gênero, apesar de questionável por se tratar da opinião de uma mulher polêmica, feminista da mais retrógrada cepa, com linguajar que denigre as mulheres comparando-as aos eunucos criando um limbo entre o homem e a mulher muito em voga nos anos 60", continuou. Para ele, a intenção de sua crítica foi de"vigiar quando tentam impingir a teoria de gênero goela abaixo, com subterfúgios, quando não conseguem nas casas legislativas".
 

Deputado Marcos Feliciano criticou questão sobre lutas feministas com Simone de Beauvoir no Enem
(Foto: Reprodução/Facebook).
 

O deputado Jair Bolsonaro também utilizou as redes sociais para manifestar sua indignação com a questão sobre as lutas feministas. "Mais ou tão grave quanto a corrupção é a doutrinação imposta pelo PT junto a nossa juventude", afirmou Bolsonaro em seu perfil pessoal no Facebook, na noite deste sábado (24). "O João não nasceu homem e a Maria não nasceu mulher", ironizou ele.

O deputado Jair Bolsonaro acusou o governo de fazer 'doutrinação' na prova do Enem 2015
(Foto: Reprodução/Facebook).

 

À medida que os estudantes saíam das salas onde as provas foram realizadas, a internet foi sendo bombardeada com comentários que eram, em sua maioria, a favor do tema. A professora universitária Elaine Pimentel, da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), que se dedica a estudos de gênero no campo das Ciências Criminais há 12 anos, afirmou, em seu perfil no Facebook, que sempre a incomodou a ausência de debates dessa natureza na formação jurídica, sobretudo porque o tema não é tratado no ensino médio.


 

Professora Elaine Pimentel, da Ufal, destaca a importância do debate do tema no Ensino Médio
(Reprodução: Facebook).


Para a jornalista alagoana Natália Agra, militante feminista, foi possível colocar um grito de "basta!" nas 30 linhas da folha de redação. "Abrir a prova e vê que o tema da redação do Enem é sobre violência contra a mulher foi quase gozante, me arrepiei toda, não que eu goste de falar sobre o assunto, mas como militante feminista me senti contemplada e pus nas poucas 30 linhas um grito de basta! Sei que isso não vai mudar muita coisa na nossa conjuntura atual, mas só o fato de se fazer pensar sobre o assunto mais de 7 milhões de pessoas, ah, já valeu muito. Enem, cê lacrou muito hoje", disse a jovem, em um texto de desabafo e satisfação.


 

Jornalista alagoana, Natália Agra apresenta satisfação com o tema da redação (Foto: Reprodução: Facebook).

 

A Secretaria Nacional de Política para as Mulheres emitiu até nota como forma de agradecimento pelo tema proposto para a redação, destacando a possibilidade de o debate ser levado para dentro de quase 8 milhões de famílias brasileiras, a partir dos estudantes. Confira a nota, na íntegra:


NOTA OFICIAL da Secretaria Nacional de política para as Mulheres sobre a Redação do ENEM.

Confraternizo com os responsáveis pelo ENEM de 2015 por apresentar como tema da redação que foi aplicada na tarde deste domingo (25/10) o debate sobre a violência.

Intitulado "A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira" sem dúvida alguma fez com que 7.746.261 mil jovens - dos quais 4.458.265 (57,5%) são do sexo feminino - refletissem sobre esta epidemia da violência contra a mulher, reflexo de uma sociedade patriarcal e machista.

Ter este tema debatido no Enem - a segunda maior prova de acesso ao Ensino Superior do mundo, ficando atrás só de um realizado na China- é um avanço para toda a sociedade quebrar com a banalização da cultura da violência.

A construção de uma pátria educadora se faz a partir da discussão de questões que mudam mentalidades e com isso, provocam mudanças culturais e rompem paradigmas. A escolha deste tema, o levou para dentro de quase 8 milhões de famílias brasileiras. Isso é algo de fundamental importância.

Não tenho dúvida da enorme contribuição para a sociedade quando no ENEM um exemplo de excelência e qualidade abraça essa causa de tolerância zero com a violência. Com essa atitude de colocar o tema como redação , vimos reforçada a luta de 12 anos da Secretaria de Políticas para as Mulheres para a transversalidade das questões de gênero no governo federal.

Eleonora Menicucci – Secretária Especial de Políticas para as Mulheres do Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos.” 


 
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Niel Antonio

Jornalista formado pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL), acredita numa comunicação social e ambiental com potencial transformador. Produz conteúdo no silêncio e também ao som de uma boa MPB. Nas entrelinhas das áreas do Jornalismo, busca desafios de produção diversos, como experiência a ser acrescentada aos quatro anos de bacharelado.

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