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A Teologia da Prosperidade

Por Sérgio Nicácio Lira 30/06/2015 12h12
Por Sérgio Nicácio Lira 30/06/2015 12h12
A Teologia da Prosperidade

É com prazer que começamos o nosso sexto encontro do ano. Agradeço a Deus pela oportunidade que nos é dada de exaltarmos o seu nome, aos leitores pelos comentários e aos amigos que estão orando por esse projeto.

Nesse encontro, vamos falar sobre a Teologia da Prosperidade. Usaremos como ponto de partida para nossa reflexão uma passagem bíblica que se encontra no evangelho segundo São Mateus Capítulo 23, versículos de 13 a 15:

"Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que fechais aos homens o reino dos céus; e nem vós entrais nem deixais entrar aos que estão entrando. Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que devorais as casas das viúvas, sob pretexto de prolongadas orações; por isso sofrereis mais rigoroso castigo. Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que percorreis o mar e a terra para fazer um prosélito; e, depois de o terdes feito, o fazeis filho do inferno duas vezes mais que vós”.

Resolvi falar nesse encontro sobre a Teologia da Prosperidade, pois é uma doutrina que cada vez mais vem ganhando espaço nas mídias e nos cultos evangélicos. Os líderes religiosos dessa seita pregão que se você der dinheiro na igreja e participar de campanhas mirabolantes ou comprar determinados objetos que são oferecidos por eles (fronha abençoada, água do rio Jordão, areia do mar vermelho, e outras bugigangas), Deus vai te abençoar materialmente.

Esses líderes religiosos usam como base para seus ensinamentos, principalmente textos do Velho Testamento, dentre eles, o mais famoso é o do Livro do Profeta Malaquias: “Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa, e depois fazei prova de mim nisto, diz o Senhor dos Exércitos, se eu não vos abrir as janelas do céu, e não derramar sobre vós uma bênção tal qual não haja lugar suficiente para a recolherdes”. (Ml 3:10). Além desse, existem outros que servem de base para essa falsa doutrina (Dt 28, Sal 25: 12-13; Sl 37:5, etc).

De fato, não há como negar que todos esses textos estão contidos na Bíblia Sagrada e que todos eles falam em prosperidade material. Não negamos também que tudo que está contido na Bíblia é verdade. Todavia, essa doutrina se torna falsa, pois ela deixa de lado os ensinamentos do Novo Testamento, para se apegar as regras do Velho Testamento. Esquecem eles que nós somos Cristãos e não Judeus, por isso, para nós, seguidores de Cristo, nenhuma das leis do Velho Testamento deve ser seguida, pois quando Jesus morreu na cruz, toda a Lei foi cumprida (Rm 10:4; Gl 3:23-24). Ademais, quando vão pregar em cima do Novo Testamento, utilizam apenas partes de um texto, fora de seu contexto.

Certo dia, assisti a uma pregação de um Pastor Evangélico que defende a Teologia da Prosperidade. O texto que ele utilizou para justificar suas afirmações foi: “Posso todas as coisas naquele que me fortalece”. (Fl 4:13). Lá pelas tantas, ele falou: “irmãos, nós temos que determinar tudo aquilo que quisermos ter, temos que reivindicar de Deus a nossa bênção, pois estamos sendo fiéis nos dízimos e ofertas; Deus diz em sua palavra que nós somos um povo eleito e que nasceu para ser cabeça e não calda. Por isso, se você quiser ter carro novo, uma boa casa e um bom emprego, basta você fazer a sua parte, qual seja, trazer seus dízimos e ofertas a casa do tesouro e Deus vai te devolver tudo dez vezes mais, pois o meu Deus é o dono do ouro e da prata, e ele vai te conceder tudo aquilo que você decretar. Decrete agora mesmo a sua vitória financeira, amém irmãos!”.

Todavia, se formos ler e interpretar o verdadeiro sentido das palavras do Apóstolo Paulo, vamos perceber que, diferentemente daquilo que o Pastor pregou, o nosso irmão em Cristo, Paulo, quando disse que podia todas as coisas naquele que o fortalecia, não estava se referindo a bens materiais, mais a sua situação de dificuldade, pois estava aprisionado em Roma. A carta escrita por Paulo à Igreja em Filipo, teve o objetivo de agradecer aos irmãos pelos donativos (alimentos e roupas) enviados para que ele pudesse sobreviver durante sua estada no cárcere, além de servir como testemunho de sua fé em Cristo Jesus. Tanto é assim, que no versículo 12 do mesmo capítulo, Paulo diz: “Sei estar abatido, e sei também ter abundância; em toda a maneira, e em todas as coisas estou instruído, tanto a ter fartura, como a ter fome; tanto a ter abundância, como a padecer necessidade”. Ou seja, o que Paulo está dizendo para mim e para você é que não importam as circunstâncias das nossas vidas, se são boas ou ruins, o que importa de verdade é que Jesus seja a nossa fortaleza, pois com ele, podemos suportar tudo.

Perceberam a diferença entre o que o Apóstolo Paulo disse e o que o “suposto Pastor” ensinou as suas ovelhas? Essa passagem bíblica deixa muito claro, que se pegarmos apenas uma parte do texto, sem analisar seu contexto, podemos fazer a teologia que quisermos. Por isso, que a teologia da prosperidade parece ser verdadeira, pois tira seus ensinamentos da Bíblia, mas na verdade, ela distorce o real sentido da palavra de Deus.

Essa artimanha de usar as Escrituras Sagradas para enganar os filhos de Deus não é novidade, pois o próprio Diabo, há mais de dois mil anos, usou desse expediente para tentar enganar Jesus. Naquela ocasião, Satanás disse: “Se és filho de Deus, atira-te abaixo, porque está escrito: Aos seus anjos ordenará a teu respeito que te guardem; e: Eles te sustentarão nas suas mãos, para não tropeçares nalguma pedra”. (Mt 4:6). Aqui, vemos mais uma vez, a palavra de Deus sendo usada como pretexto para justificar uma falsa verdade. Satanás, pai da mentira, sorrateiramente tenta enganar Jesus, fazendo com que Ele se desvie dos planos de Deus, mas Jesus, usa outra passagem da Bíblia para mostrar ao Diabo que Ele, Jesus, sabe todos os planos de Deus, pois Ele e o Pai são um só. Por isso, Jesus respondeu: Também está escrito: Não tentarás o Senhor, teu Deus”. (Mt 4:7).

Quer ver outro exemplo, Jesus chegou para seus discípulos e perguntou: Quem dizes que sou eu? Pedro respondeu: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo. E Jesus, respondendo, disse-lhe: Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque quem te revelou não foi a carne nem o sangue, mas meu Pai, que está nos céus. Em seguida, Jesus começou a falar para seus discípulos sobre a forma como Ele iria ser entregue aos seus algozes e morto na cruz. No meio da conversa, Pedro, aquele mesmo que havia confessado que Jesus era o Cristo, e que o próprio Jesus havia dito que quem fez aquela revelação a ele foi Deus, disse: “de modo nenhum te acontecerá isso”. Dessa vez, a resposta de Jesus para Pedro foi: “Para trás de mim Satanás, que serves de escândalo; porque não compreendes as coisas que são de Deus, mas só as que são dos homens”. (Lc 16: 16-23).

Bastante interessante essa passagem da Bíblia. Como pode num mesmo diálogo, Pedro receber uma revelação de Deus e logo em seguida Satanás falar em sua boca? Não parece meio contraditório? Mas não é! Explico.

O objetivo de Jesus nesse texto, foi mostrar para Pedro que quem o revelou que Ele era o Messias foi o próprio Deus. Todavia, Pedro ainda não estava preparado para receber toda a revelação Divina e entender o plano de Deus para a humanidade. Pedro entendeu que Jesus era o Messias, mas não aceitou o fato de que Ele deveria ser morto na cruz. Foi nesse momento que Jesus o repreendeu dizendo: para trás de mim Satanás. Jesus fez isso para mostrar que nem sempre aquilo que achamos ser o correto, está em harmonia com a vontade de Deus.

Quantas vezes vemos a Bíblia Sagrada sendo usada como pretexto de ser a vontade de Deus, mas na verdade, está sendo usada para satisfazer desejos do coração do homem. Na passagem bíblica que usamos como ponto de partida para nossa reflexão, Jesus traz juízo sobre os fariseus, pois eles estavam usando a Lei do Senhor não para pregar as boas novas, mas para retirar dinheiro das viúvas e para angariar fieis que pudessem servir a eles com o propósito de juntar riquezas materiais.
A Teologia da Prosperidade afirma que o cristão tem todo direito de reivindicar e exigir de Deus sua bênção material, pois a partir do momento em que o fiel cumpre sua parte com dízimos e ofertas, Deus tem a OBRIGAÇÃO de cumprir a dEle, isto é, de dar uma vida confortável e luxuosa ao que investe na igreja. Em lugar de dizer: peço, rogo, suplico. Eles usam: determino, decreto, exijo, reivindico.

O fato é que se nós formos comparar a Teologia da Prosperidade com o evangelho de Jesus, o Cristo de Deus, vamos observar que enquanto essa seita prega o apego aos bens materiais, JESUS vai na contramão e PREGA O DESAPEGO. Ele nos ensina que devemos juntar tesouros nos céus e não na terra, que não devemos nos preocupar com o dia de amanhã, pois se Deus cuida de passarinhos e de plantas, quem dirá de nós, nos ensina que o evangelho não tem nada a ver com dinheiro, comida ou bebida, mas com paz, justiça e alegria no Espírito Santo. Em vez de ouvir num sermão que é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino dos Céus (Mt 19:24), ouvimos que devemos acumular o máximo de riqueza que pudermos, pois Deus é obrigado a nos abençoar.

Ademais, o Apóstolo Paulo nos ensina que Deus prova o seu amor por nós, não através de dinheiro ou riquezas, mas através de seu filho pregado na Cruz do Calvário (Rm 5:8). A riqueza pode sim ser uma benção de Deus nas nossas vidas, mas ela representa a menor das bênçãos, pois a maior de todas elas é o nosso relacionamento em paz com Deus, mediante a justificação pela fé (Mt 6: 25-33).

Se você vai à igreja em busca de dinheiro, você está indo adorar um “falso deus”, chamado por Jesus de “mamom”. O verdadeiro cristão vai à igreja em busca de adorar a Deus, pai de Jesus de Nazaré. Por isso que Paulo nos ensina que o dinheiro é nada em relação ao Reino de Deus, quando ele escreveu à igreja de Coríntios, em 2 Cor 6:10, ele disse: “Como contristados, mas sempre alegres; como pobres, mas enriquecendo a muitos; como nada tendo, mas possuindo tudo”.

Eu destaco a expressão NADA TENDO, MAS POSSUINDO TUDO, ou seja, meus bolsos estão vazios, não tenho ouro nem prata, mas tenho tudo, pois posso todas as coisas naquele que me fortalece, pois em Cristo Jesus sou mais que vencedor, pois minha alegria e minha esperança estão no Senhor e não no dinheiro.

É bem verdade que muitos irmãos em Cristo estão sendo enganados por essa falsa doutrina da prosperidade e estão sendo guiados por um espírito diabólico para longe de Deus. Essa doutrina está totalmente fora do evangelho, pois o que Jesus nos prometeu não foi carro, casa e riqueza, mas que iria mandar o Espírito Santo para que nós pudéssemos vencer o mundo, assim como ele venceu. Não se engane Jesus não promete vida fácil para ninguém, mas ele promete que vai passar pelas dificuldades conosco. Ele disse que nesse mundo teremos aflições, mas tenhamos bom ânimo, pois Ele venceu o mundo e nós vamos vencer também. (Jo 16:33).

Portanto, meus irmãos, não se deixem enganar por falsas doutrinas. Fuja dessas igrejas que pregam prosperidade material em detrimento do reino de Deus, pois elas podem te conduzir para a perdição.

Que Deus nos dê discernimento espiritual para fugirmos dessas falsas doutrinas. Amém! Até o próximo. Um grande abraço.
 
“Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jo 8:32).

Sérgio Nicácio Lira