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Nem na cama, muito menos na rede: o perigo da exposição de crianças na internet

Por Niel Antonio 15/06/2015 08h08
Por Niel Antonio 15/06/2015 08h08
Nem na cama, muito menos na rede: o perigo da exposição de crianças na internet
Foto: Shutterstock
É quase impossível, nos tempos atuais, encontrar jovens que não estejam conectados com a internet, seja através de smartphones, tablets, notebooks ou até mesmo a partir de antigos computadores que algumas lan houses ainda mantêm em funcionamento. A cada segundo, no mundo, há alguém que publica uma imagem, um texto, uma informação sobre um encontro, um simples status, uma mensagem, um texto sobre uma conquista, uma indignação ou até mesmo informações pessoais. 

As redes sociais são, muitas vezes, confundidas como algo pessoal e intransferível. Mas será que são tão pessoais assim? De certo modo, sim, porque é você quem administra, é você quem diz o que pode ser publicado, quem determina suas limitações na rede, quem diz se vai fazer propaganda ou não para determinados produtos, voluntariamente ou não, quem convida/aceita quem pode ser "amigo" ou quem acompanha as inúmeras fan pages sobre diversos produtos e serviços. Mas já pensou se sua conta for invadida (hackeada)? E se seu celular for roubado/furtado e alguém utilizar suas contas de redes sociais para te prejudicar? Enfim, essas são apenas algumas preocupações, cujos cuidados independem de nossa autonomia e muitas vezes é preciso buscar ajuda das autoridades para que se consiga resolver o problema, sendo que o desgaste emocional é inevitável.

Entretanto, esquecemos que também somos propagadores de informações valiosas ao nosso respeito, de nossos familiares e amigos, de maneira voluntária. Esquecemos, por vezes, e fazemos questão que vejam/saibam onde trabalhamos, qual academia frequentamos, os bares, a igreja ou até mesmo a escola de nossos filhos. É sobre as crianças que toda e qualquer informação divulgada pesa. Você é adulto, responsável por suas atitudes, mas a criança ainda não tem maturidade para discernir o que pode ser bom ou prejudicial para ela. Portanto, informações e imagens de crianças propagadas nas redes sociais são de inteira responsabilidade dos pais e/ou responsáveis, assim como por quaisquer informações que chegam "nas mãos" de pessoas erradas. Sim, você adulto, pode cooperar para o sequestro de seus filhos ou de sua família.

Certo dia, a polícia de Santa Catarina publicou um vídeo de uma entrevista a um sequestrador que havia sido preso. Ele sequestrou uma criança, que depois de dias foi encontrada e devolvida à família, pela polícia. Durante os questionamentos, um jornalista, então, perguntou como ele [o sequestrador] conseguiu obter informações tão sigilosas daquela família. Sem nenhum pudor, o acusado respondeu que o Facebook foi fundamental para planejar o sequestro. "O Facebook mostra tudo [...] Se vocês puxar (sic), vocês vão ver como mostra tudo da vida pessoal, mostra até dentro da casa deles”, disse o acusado. “Ali mostra tudo, onde o filho estudava, onde o pai trabalhava”, completou. Segue o vídeo:



Por que será que o Facebook não permite que adolescentes menores de 13 anos tenham um perfil na rede? A política do “Feice”, como muitos o chamam, pode ser considerada rígida por alguns, mas ela é louvável nesse sentido. Porém, muitas vezes, os pais não têm controle, porque os adolescentes mentem suas idades e conseguem fazer uma conta na rede, sem sua autorização. Outros permitem e até ajudam durante o envio de dados para a conquista do tão sonhado perfil da geração conectada na internet.

São até considerados benéficos a permissão e acompanhamento dos pais aos filhos, uma vez cientes do que está ocorrendo, do que as coisas ficarem às escuras, no escondido. Além do mais, são inúmeras as redes, desde Twitter, Facebook, LinkedIn, Instagram, Youtube, Qzone, Sina Weibo, WhatsApp, Google+, Tumblr, Line, WeChat, dentre outras que podem ameaçar significativamente a segurança dos pequenos. Há apps, por exemplo, que integram várias dessas redes e basta um toque na tela do celular para que uma publicação seja simultânea.

Poderia ser compreensível que, até certo momento, as fotos de bebês nos primeiros dias de vida fossem colocadas na rede, porque, como muitos dizem, "todo bebê tem cara de joelho", não se diferenciam muito uns dos outros, mas mesmo assim não é aconselhável e quando a feição da criança começa a se formar, surge uma identidade: "Olha, essa é a filha da Ana", "Nossa, como tá lindo o bebê da Júlia!". Ou seja, a criança já passa a ter um referencial familiar para as pessoas. É o Arthur, que é filho de Marlene, que é neto do senhor Leopoldo, que é sobrinho do Cláudio, e por aí vai.

Se Cláudio, o tio babão, por exemplo, publica uma fotografia do pequeno Arthur, todos os amigos de Cláudio podem ver essa imagem e os amigos de quem curtir/compartilhar/comentar a foto também podem visualizar o conteúdo. Ou seja, não sabemos o alcance disso tudo. Com isso, a foto do garoto pode ser vista por pessoas mal intencionadas, que podem salvar a imagem em sua máquina e utilizá-la de maneira errada, distribuindo ou vendendo a pedófilos da rede suja da internet. Jamais coloque imagens que você acha que pode causar constrangimentos futuros ao seu filho; nunca, em hipótese alguma, apresente fotos em que a criança apareça sem roupas e jamais [mais uma vez] dê as coordenadas, em check in, de onde sua “cria” se encontra ou apresente locais de sua casa.

A criança tem o direito de ter sua imagem preservada e isso consta no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA): Art. 17. O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, ideias e crenças, dos espaços e objetos pessoais.

A melhor maneira de evitar problemas futuros é começar a pensar melhor antes de colocar nesse espaço público as imagens ou informações das crianças, do tesouro mais valioso dos pais e da família. São pequenos, indefesos, e merecem o respeito e cuidado de seus responsáveis. Se algum amigo realmente deseja ver seus filhos, melhor que ele te faça uma visita. Elas [as visitas] não têm ocorrido com a mesma frequência, depois de toda essa evolução tecnológica. Por que teu amigo vai visitar você, se ele consegue saber de tua vida, passos, filhos, família, pela internet?

Os amigos e familiares também podem cooperar. É só não curtir as publicações onde há crianças na imagem, não compartilhar e muito menos comentá-las e, sempre que possível, tentar um diálogo com o familiar do pequeno para que isso não tenha continuidade ou para que o cuidado seja redobrado. “Ah, mas isso é ser radical demais”, você pode até dizer. Mas, como já diziam as matriarcas de nossos pais, “com criança, todo cuidado AINDA É POUCO”.

Lembre-se que, de acordo com estimativa do Internacional Centre for Missing and Exploited Children (ICMEC), todos os anos, oito milhões de crianças são raptadas em algum lugar do mundo. Muitas delas regressam para o seio familiar, outras, entretanto, são sequestradas para fins sexuais ou vendidas por traficantes para obterem lucros diversos. Sua casa pode ter a melhor segurança do bairro, com sistema de alarme em perfeito funcionamento, portas e portões fortes, mas você pode estar esquecendo um portal aberto, com informações criteriosas ao seu respeito e a respeito de seus familiares.
 

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Niel Antonio

Jornalista formado pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL), acredita numa comunicação social e ambiental com potencial transformador. Produz conteúdo no silêncio e também ao som de uma boa MPB. Nas entrelinhas das áreas do Jornalismo, busca desafios de produção diversos, como experiência a ser acrescentada aos quatro anos de bacharelado.

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